EDITORIAL | A questão elementar

Durante cinco anos, pouco mais, as folhas de pagamento dos funcionários do Estado foram pagas com atraso e em parcelas, por conta do virtual esgotamento do Tesouro estadual. A situação só se modificou, no ano passado, com o caixa estadual reforçado com o ingresso de recursos de indenização paga pela mineradora Vale, em consequência da ruptura da barragem de rejeitos da empresa em Brumadinho.
Diante da evidência de que não existiam alternativas, a situação foi aceita, ainda que não faltassem protestos e manifestações sindicais, muito mais proforma que por verdadeira convicção. Os servidores sabiam e continuam sabendo o que se passa, sabem das dificuldades que o Estado enfrenta, da mesma forma que não desconhecem que os maiores encargos são justamente a folha de pagamentos do pessoal ativo e inativo.
Restabelecida, pelo menos, a regularidade nos desembolsos, rapidamente o movimento sindical voltou à carga, agora exigindo recomposição. Não se trata aqui de discutir se os reclamantes têm ou não têm razão e sim de apontar que, de fato, os cofres públicos não têm como sustentar tais encargos. Engordados, vale lembrar, por um reajuste de 10%, para todas as categorias do funcionalismo, oferta que não agradou e que os senhores deputados, que em nenhum momento perdem de vista que em outubro haverá eleição, logo trataram de dobrar.
Seguindo o ritual, o governador Romeu Zema vetou o projeto e, na sequência, o Legislativo derrubou o veto. Depois do governador dizer que não paga simplesmente porque não tem dinheiro, remeteu a questão ao Judiciário, apontando que não há como suportar o aumento nas despesas públicas.
É fato que a soma de erros cometidos ao longo do tempo produziu esse quadro, com o consequente desequilíbrio das despesas. Todo mundo sabe, não é novidade, mas ainda assim não faltam os que pensam que o setor público é uma espécie de saco sem fundos, onde cabe tudo. Sim, existem injustiças na distribuição do butim, que por óbvio deveriam ser prontamente corrigidas a despeito das “vantagens”, dos “direitos adquiridos “e um sem-fim de “penduricalhos”. Este sim é o centro da questão, é o que deveria estar sendo apontado e defendido pelos próprios sindicados, não fosse o oportunismo.
Só para lembrar, dados que acabam de ser divulgados e relativos à média nacional apontam que o servidor público recebeu em média nos últimos anos o dobro do que ganha o trabalhador do setor privado. Em 2021 esse rendimento mensal foi de R$ 3.895,50 para o funcionalismo e R$ 1.977,34 para a iniciativa privada. Se acaso ainda faltassem argumentos…
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