EDITORIAL | A receita desandada

Liberal da escola de Chicago, daqueles que acreditam que o Estado mínimo é o Estado que funciona, o economista Paulo Guedes parece ser um dos esteios do governo Bolsonaro, embora a respeito das relações dos dois não faltem intrigas, além de sinais objetivos de impaciência dos dois lados. Algo que se percebe quando o ministro da Economia insinua ou afirma que criar impostos ou aumentar os que já existem é na sua perspectiva uma hipótese concreta e o presidente da República responde, bem no seu estilo, que esta é uma possibilidade que seu governo não considera. Isso aconteceu, mais de uma vez, com as referências de Paulo Guedes à antiga CPMF e, mais recentemente, quando colocou na mesa a ideia de um “imposto do pecado” ou, objetivamente, sobre cigarros, bebidas, etc.
Há quem enxergue nesses desencontros algo como que o lançamento de balões de ensaio, destinado a testar reações, em que o ministro da Economia ficaria com o papel de vilão. Há também quem diga que existem mesmo divergências de opinião e que o presidente, ciente de seu poder, parece ter esquecido o “posto Ipiranga” em que durante a campanha eleitoral apontou, mais de uma vez, como uma espécie de porto seguro, onde lançaria âncoras sempre que esbarrasse com assuntos econômicos. Quem enxerga a situação dessa maneira acrescenta que, além de independente e dono de uma situação financeira confortável, Guedes seria daqueles que tem pavio curto e pode simplesmente arrumar as malas e dar o fora.
Nada indica que isso possa ser bom para Bolsonaro, como não seria bom para o País, justo no momento em que ensaia reações positivas na economia.
Seria adequado recordar, nessas alturas, que Guedes chegou ao governo com as garras afiadas e logo tratou de exibi-las, sobretudo no ambiente político, quando prometia cortar despesas e privilégios e assim aproximar as contas públicas do equilíbrio. Inteligente, ele não demorou a perceber que estava em terreno pantanoso e tratou de mudar o discurso. Se não era possível cortar despesas, restava a alternativa de elevar receitas. E tirar mais dos bolsos dos contribuintes.
Se seguir a trilha, ele, ou seja lá quem for, logo constatará que os bolsos já estão vazios, enquanto o Estado, ou as corporações que dele se apropriaram, continua perdulário, sem se dar conta que já não existem horizontes para que essa situação prossiga.
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