Opinião

EDITORIAL | A solução mais perto

EDITORIAL | A solução mais perto

Levantamentos de 2020 realizados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e agora divulgados indicam que, naquele ano, de 80 milhões a 130 milhões de pessoas em todo o mundo passaram a fazer parte do grupo que a própria organização define como vítimas da fome crônica. Dados mais recentes, atribuídos a organizações locais, dão conta de que no Brasil a legião de famintos tenha chegado a 30 milhões de indivíduos.

A pandemia, não resta dúvida, contribuiu muito para esta situação, ou seu agravamento, com a redução das atividades econômicas e a perda de renda, que não foi limitada aos assalariados. São números trágicos, ainda que esperados, e que mais amplamente estão associados a questões estruturais, permanentes.

Pensemos nas desigualdades, nos poucos que têm muito e nos muitos que não têm nada para entender que a ordem econômica mundial, de que tanto se fala e para a qual tantas mudanças são prometidas, é tão absurdamente desigual que nos já quase dois anos de pandemia o número de bilionários cresceu, os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres.

Alguém já disse que no pós-pandemia, que felizmente parece estar menos distante, nada da antiga ordem permanecerá de pé porque as desigualdades foram desnudadas e, sobretudo, foi possível entender, ainda que da maneira mais dolorosa, que ela é potencialmente ameaçadora ao próprio status quo.

Ou, pura e simplesmente, dito de uma forma que aqueles que entendem que o mercado, esta entidade que guarda mistérios insondáveis, seria capaz de regular a economia e promover a prosperidade, possam aceitar que a redução da concentração da renda, entre pessoas, países ou mesmo empresas, ao contrário do que se imaginava e era propalado, pode sim ser boa para os negócios. Compreensão elementar que pode também vir a ser uma espécie de  virada de chave, início efetivo da construção de um mundo melhor.

Melhor do ponto de vista do indivíduo que hoje não tem o que comer, melhor do ponto de vista de quem tem dinheiro, tem negócios e poderia ter mercados maiores.

A inteligência, os conhecimentos acumulados, os recursos e as riquezas disponíveis devem, simplesmente, servir melhor ao conjunto da humanidade, satisfazendo necessidades básicas e reduzindo riscos potenciais que são representados também pelas migrações descontroladas, em última análise fruto da exploração que vem desde o período colonial. Estamos vendo que é possível mudar sem rupturas e sem perdas, mas deixando de lado a ganância, o apego ao poder e ao controle, se não pelo entendimento do bem, pelo menos pela compreensão de que os riscos crescem na mesma proporção que a legião de famintos.

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