EDITORIAL | Abismo não é a alternativa
Os caminhos se estreitam. Eis a primeira conclusão a que se pode chegar em relação à votação de domingo, no que toca à escolha que mais desperta atenção, a do próximo presidente da República. A decisão ficou entre extremos, numa situação sem lógica aparente, se não ao evidenciar as proporções da fratura politica que atingiu o País. São condições de alto risco, sobretudo se considerados os desafios a superar no campo da gestão pública, com ênfase na esfera econômica. Nesse campo, cabe registrar, não parece haver compreensão sequer com relação à verdadeira natureza dos problemas a enfrentar, muito menos quanto às suas proporções.
Para recordar: estudiosos sérios já apontam que, mantidas as condições atuais, em 2020 as finanças públicas tendem ao colapso, com comprometimento possível até mesmo de serviços essenciais. O País pode parar e vai parar se nada for feito, se as atenções prosseguirem concentradas no poder, sufocando a possibilidade de construção de um projeto de governo, para um Estado que possa afinal enfrentar e vencer suas mazelas.
Assim, falar em vencedores, agora, pode se revelar mais uma grande ilusão, constatação que remete a recentes declarações de empresários e lideres classistas igualmente preocupados. Eles defendem mudanças, reclamam protagonismo, recomendam a seus pares que se levantem dos sofás onde, comodamente, julgam estar discutindo – e influindo – o futuro. Este, sim, o foco das atenções, a possibilidade de aproximação da resposta desejada.
Trata-se de quebrar a ideia de que o País está desunido, dando por consumado o conflito que divide, e fazer justamente o contrário, começando a tomar de volta os espaços apropriados por maus políticos e pela burocracia à sua volta, levando o Estado brasileiro a distorções que não podem mais ser suportadas, ao mesmo tempo em que vai sendo consumida sua energia vital.
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Esta, verdadeiramente, deveria ser a questão central, o verdadeiro foco das discussões, dos debates e, sobretudo, dos compromissos que, num processo natural de afunilamento, ocuparão as próximas três semanas, até a votação em segundo turno. Não seria demais, afinal, esperar e desejar que o natural realinhamento propiciado pela segunda etapa do processo eleitoral, tivesse como eixo o reconhecimento de que a possibilidade de devolver rumos ao País passa necessariamente por tal realinhamento. Ou a elementar compreensão de que a divisão remete à ideia do quanto pior melhor e apenas nos aponta o rumo do abismo.
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