Opinião

EDITORIAL | Acordo por Minas

EDITORIAL | Acordo por Minas
Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

Os mineiros acompanham com real interesse – preocupados, apreensivos e esperançosos – as tratativas em torno do processo de recuperação judicial da Samarco, pois ao seu êxito está condicionada a retomada plena das atividades da empresa. Se as partes envolvidas errarem a mão, entra em risco a própria sobrevivência de uma empresa estratégica e fundamental para o Brasil e para dois dos mais importantes estados brasileiros – Espírito Santo e Minas Gerais. 

Neste momento, os sócios controladores e os fundos credores divergem. De um lado, a brasileira Vale e a australiana BHP Billinton, fundadoras da Samarco; de outro, fundos credores, entre os quais alinham-se alguns dos mais vorazes do mundo, também chamados, por óbvias razões, de “fundos-abutre”. São divergências relevantes, sobre questões igualmente fundamentais, como a velocidade de retomada da produção plena da empresa, no nível anterior à tragédia de rompimento da Barragem do Fundão, bem como sobre os patamares e o ritmo de integralização de investimentos sociais de reparação aos danos causados pelo traumático acidente de rompimento da barragem do Fundão, a maioria deles gerenciadas pela Renova.

Pragmáticos, os fundos credores focam seu posicionamento em um ditado bem conhecido dos mineiros – “farinha pouca, meu pirão primeiro”, cujo significado todos conhecemos. Os acionistas controladores abraçam estratégia mais conservadora, que pode até levar mais tempo para colocar a empresa no patamar anterior ao acidente, mas assegura, ao final, a retomada plena de produção, geração de empregos diretos e indiretos de qualidade e divisas para o País pela via das exportações para os grandes mercados mundiais.

Em tempos de conflito e de confronto, as boas práticas de negociação recomendam sempre o chamado caminho do meio, que tem sempre a cara do bom senso, da transigência e disposição sincera de buscar o entendimento. No caso Samarco, de forma inédita, o “caminho do meio” chega pela iniciativa exemplar dos sindicatos dos trabalhadores – Metabase e Sindimetal -, que se aliaram a fornecedores de pequeno e médio portes e protocolaram um plano de recuperação alternativo, capaz, não apenas de aproximar a Samarco, Vale, BHP e sócios credores, bem como melhorar as condições de recebimentos dos créditos trabalhistas e de fornecedores. Se houver bom senso, o impasse iniciado em abril de 2021 pode estar perto do entendimento.

De fato, o acordo proposto por trabalhadores e fornecedores, tem o mérito de assegurar a geração de valor para todos os stakeholders (colaboradores, comunidades, fornecedores, credores, entre outros) de forma equilibrada, especialmente para que as partes mais vulneráveis, no caso, as famílias dos trabalhadores, não sejam ainda mais impactadas em detrimento do ganho dos credores financeiros.

Este é o comportamento de organizações que alcançaram a sua maturidade plena, que lhe propicia gerar lucros civilizados e bem-estar social – com os pés no chão, sem sobressaltos. Maturidade que se vê também nos sindicatos e fornecedores, que se unem em uma proposta cujo grande objetivo é evitar que a Samarco embarque em uma aventura, pautada em planos de negócios agressivos e economicamente inviáveis, que colocam em risco as operações da empresa e, via de consequência, os direitos de todos os interessados na manutenção da atividade econômica da empresa. Minas e os mineiros agradecem!

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