EDITORIAL | Agir enquanto temos tempo

Temos procurado utilizar este espaço, sempre que ocasião se apresenta, para apontar, denunciando e alertando, o que vem acontecendo com a internet e suas ramificações, devido ao mau uso. Sem exageros é possível afirmar que estamos todos diante de ameaça que não foi ainda bem avaliada ou considerada como tal, situação que poderá ser potencializada de maneira avassaladora com as novas tecnologias que estão chegando, multiplicando quase ao infinito o poder dessas máquinas e sistemas.
Como também já foi dito, é de se lamentar que uma tecnologia fantástica, que não faz muito tempo pertenceria ao reino da fantasia ou da ficção, concebida para aproximar pessoas, difundir e tornar acessíveis conhecimentos, tenha enveredado por um caminho de início banal, avançando perigosamente na direção da mentira, da ofensa e da agressão, revelando talvez o pior da condição humana.
Hoje não falamos, pelo menos não diretamente, do campo político, da manipulação de informações visando contaminar e confundir, numa escala que, como já alertaram estudiosos, deve ser detida antes que contamine o sistema político democrático, entendido pela maioria como o mais saudável.
Falamos do uso mais corriqueiro das tais redes sociais e seus derivados, disseminando vaidades, futilidades e informações da mais completa inutilidade, quando não mentirosas. Tudo isso suportado por um falso e deturpado conceito de liberdade de expressão, quando não apresentado como jornalismo, mas sem que sejam considerados os mais elementares princípios, como apuração, correção etc., da atividade.
Tudo nos ocorre a propósito de acontecimentos recentes, envolvendo um tal “bloqueio”, cuja audiência conta aos milhões e que, num debate muito mal alinhavado, cometeu desatinos como defender a legalidade de um partido nazista, confundindo tal possibilidade com o exercício da liberdade de expressão. A reação foi contundente e imediata, especialmente da comunidade judaica e, como costuma acontecer nessas ocasiões, o fulano foi demitido e, sem nenhuma originalidade, disse que não foi compreendido. Se não bastasse, acrescentou que falou o que falou porque estava bêbado.
Este é o ponto a que chegamos e espanta que a despropositada afirmação não tenha merecido maior destaque. Como assim, uma pessoa que se reconhece embriagada participando de um programa de grande audiência? Modernidade? Liberdade? Que não nos venham com desculpas porque o nome disso é irresponsabilidade, talvez seja a prova que faltava de que a internet caiu num terreno pantanoso, do qual precisa ser retirada em nome de princípios e valores que, como acabamos de ver, não podem ser postos de lado.
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