Opinião

EDITORIAL | Ainda é tempo de tomar juízo

EDITORIAL | Ainda é tempo de tomar juízo
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

A semana que termina foi marcada, tristemente, pela soma de cem mil vítimas fatais do coronavírus no Brasil, tragédia sobre a qual não cabem adjetivos ou conforto para os que eram próximos dos que perderam a batalha. Um outro assunto, evidente que sem nenhum elemento de comparação direta, ocupou a atenção de muitos brasileiros, a “debandada” reconhecida pelo próprio Paulo Guedes no Ministério da Economia.

No centro de mais essa crise que atinge a alta administração federal aflora a divisão entre os que propõem alavancagem de gastos e de obras públicas e os que entendem, como o ministro da Economia, que romper o teto de gastos é o mesmo que construir um desastre futuro, sem contar que estaria sendo quebrada palavra empenhada pelo presidente da República durante a campanha que o elegeu.

Como o espaço para isso é bastante elástico, o clima ficou ainda mais tenso na quinta-feira, na expectativa de reunião de emergência convocada pelo Planalto. Aparentemente, água fria na fervura, com novas garantias de que o espaço e a autonomia do gerente – ou seria o dono? – do Posto Ipiranga estaria garantido.

Com os mercados agitados pela manhã, enquanto não faltaram rumores de que o próprio Paulo Guedes poderia ser o próximo a debandar, e mais calmos no fim do dia, a noite em Brasília deve ter sido mais tranquila, sobretudo diante dos sinais de que Executivo e Legislativo estariam efetivamente mais afinados, olhando na mesma direção.

O entendimento, pelo menos o anunciado, confirma o elementar princípio que ensina que quando falta dinheiro a primeira solução é gastar menos. Nesse ponto, e ainda na quinta-feira, a reforma administrativa voltou à pauta, não faltando quem lembrasse que folha de pagamentos e previdência consomem 80% do orçamento da União.

Um dado autoexplicativo mas diante do qual não faltou quem explicasse que o que se pretende é focar os excessos, mais comuns no Legislativo e no Judiciário, sem perder de vista que a média dos salários pagos a servidores federais corresponde ao dobro do que se paga para a mesma função na iniciativa privada. Ainda assim, sem nenhuma perda para quem já faz parte desse mundo e sim para seus futuros ocupantes.

Teoricamente, eis o rumo fixado, que deveria ser perseguido mesmo em épocas de fartura e impositivo quando vem do Palácio do Planalto a notícia de que somente as despesas extraordinárias representadas pela pandemia representarão mais R$ 700 bilhões no déficit previsto para o exercício. Para quem sabe fazer contas, ou para quem simplesmente tem juízo, não resta mais nada a ser dito.

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