Opinião

EDITORIAL | Algum nível de equilíbrio

EDITORIAL | Algum nível de equilíbrio
Crédito: Pixabay

Os arranjos políticos que antecipam eleições, presidenciais sobretudo, custam caro, especialmente no sistema que autoriza a reeleição. Vale para o Brasil e não é muito diferente dos países que seguem trilha semelhante. Apoios, quase sempre não têm o suporte das convicções, estão no balcão à espera da melhor oferta. Há quem venda e, evidentemente, quem compre, num processo que certamente não foi inventado agora, mas parece ter ganhado dimensões inéditas, tudo às claras e sem qualquer espécie de disfarce.

É o que tem mostrado o noticiário quando exibe, por exemplo, insuspeitas e inéditas preocupações com a sorte dos mais pobres ou com os salários do funcionalismo público, tudo isso sem contar arranjos mais discretos, os mais inocentes abrigados nas tais emendas parlamentares.

Tudo isso custa um dinheiro que não existe e que se tenta fabricar à custa de um calote nos precatórios, que por sua vez já representam um calote institucionalizado que costuma durar décadas, não raro mais que os próprios credores. Numa semana em que os mais altos integrantes dos três poderes resolveram fazer um périplo no exterior, o assunto ressurgiu, agora na forma de uma advertência do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que disse ser “importante” que a administração central desse algum sinal de esforço fiscal e de “algum corte de gastos”.

“Precisamos fazer um esforço fiscal e eu acho que ter algum nível de equilíbrio nos gastos seria muito importante, acenar com algum corte de gastos, alguma coisa nesse sentido”. Para o economista, não escapam, entretanto, as dificuldades, “já que o mundo político gera suas limitações nesse sentido”, mas acrescenta que esse movimento seria de grande importância para diminuir a percepção de risco no Brasil e manter os juros mais baixos. Não foi preciso esperar muito para ouvir a resposta e ela veio do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogerio Marinho, considerado um dos grandes gastadores do Planalto.

Para ele somos um país desigual e complexo e de desafios a serem vencidos. “Nossa visão não pode ser meramente fiscal ou meramente monetária. Temos que ter sensibilidade social como este governo teve”, arrematou. Sensibilidade absolutamente tardia, ainda por cima em véspera de eleição, absolutamente não convence, sobretudo quando não vem acompanhada do esclarecimento de que pelo descontrole atual será pago, adiante, um preço amargo, ironicamente traduzido em mais dívidas e calotes possivelmente ainda maiores.

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