Opinião

EDITORIAL | Alívio, até certo ponto

EDITORIAL | Alívio, até certo ponto
Crédito: Marcos Santos/USP Imagens

As estimativas sobre o desempenho da economia no ano corrente, medido pela variação do Produto Interno Bruto (PIB) foram mais uma vez revisadas esta semana, felizmente para menor. Vale recordar que previsões anteriores chegaram a apontar que a queda poderia chegar até aos 9%, percentual agora reduzido a 4%, conforme as contas mais recentes do Banco Central.

Um sinal positivo e um alívio de enormes proporções, sobretudo quando acompanhado da informação, esta do próprio Ministério da Economia, de que o déficit público deve encolher em pelo menos R$ 16 bilhões, o que significa que, para o Tesouro Nacional, a diferença entre ingressos e saídas ficará, este ano, em torno dos R$ 844 bilhões.

Melhor assim, mesmo que não se possa esquecer que as contas feitas antes da pandemia permitiam estimar, segundo os números oficiais, que o déficit público ficaria em torno dos R$ 100 bilhões este ano. Reduzindo a questão a uma expressão mais simples e de fácil compreensão, este o tamanho do problema, nada pequeno evidentemente, que temos pela frente e isto antes de um diagnóstico mais preciso sobre o comportamento da Covid. Alívio sim, porém sem que se perca de vista o entendimento de que estamos falando do “menos pior”, sem direito, portanto, a baixar a guarda ou alimentar a esperança de que o próximo ano poderá ser muito melhor.

O fato é que o tombo não foi tão grande como chegou a se imaginar, mas a situação prossegue longe do qualquer coisa confortável, capaz por exemplo do otimismo que, pelo menos em público, o ministro Paulo Guedes exibe, o que se repetiu esta semana quando disse que a ajuda emergencial oferecida à população de mais baixa renda acaba quando findar o ano porque a oferta de empregos está aumentando e os sinais de recuperação da economia são animadores.

É preciso injetar doses, tão fortes quanto possível, de confiança e de esperança, mas os fundamentos têm que ser a realidade, até para que possamos todos nos preparar o mais adequadamente possível. Para resumir, cautela faria muito bem, inclusive para inspirar ações mais bem estruturadas, a partir de movimentos muito bem coordenados, função não deste ou daquele Ministério mas de todo o governo, em adequada sintonia com o mundo político e com o empresariado.

Sem a ilusão de soluções fáceis, sem a falsa crença de que tudo voltará ao seu lugar naturalmente, menos ainda negando que existam problemas estruturais, alguns bem antigos, dependentes das reformas que não acontecem, outros mais novos, como o endividamento gerado este ano, a ser cobrado em 2021.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas