Opinião

EDITORIAL | Andando em círculos

EDITORIAL | Andando em círculos
Crédito: Pixabay

A pandemia nos cobra um preço brutal e que não é medido exclusivamente pela dor maior, representada pela perda de vidas, num luto que hoje é coletivo. Houve perda de produção, vendas e faturamento nas empresas, houve desemprego numa escala sem precedentes, tudo isso traduzido em empobrecimento e, ainda mais tragicamente, com sinais de que a concentração de renda também aumentou.

Situação que mais de perto dói aos brasileiros, mas tem proporções e efeitos globais, mesmo com os sinais de que a depressão possa não ser tão forte como se imaginava. Certo é que restabelecer a normalidade, como e quanto for possível, exigirá esforços numa escala também nunca vista.

Em última analise, é disso que tanto se tem falado em Brasília nas últimas semanas, em que a construção de um programa de renda mínima, em que até a escolha do nome causa dificuldades e gera incômodos, esteve no centro das atenções, de um lado expondo a pobreza aviltante que alcançou milhões de brasileiros, sobretudo aqueles que sequer tinham empregos formais, de outro revelando que as autoridades públicas sabem do tamanho do problema e muito provavelmente já se deram conta de que não existem recursos, ou fontes de financiamento, na escala demandada. O cobertor é muito curto para atender a todos, não faz sentido tirar dos pobres para dar aos paupérrimos, como muito bem lembrou o presidente da República, e faltam condições, políticas e legais, para propostas tão criativas quanto suspender o pagamento de precatórios ou congelar aposentadorias e pensões.

Daí a sensação de que estão todos rodando em círculo, sem saber que direção tomar. Num exercício que pode ser pelo menos elucidativo, valerá a pena voltar um pouco no tempo, até a campanha presidencial de 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro, que certamente não tinha a menor ideia dos problemas que viriam, prometia controle e disciplina nos gastos, bem como o fim dos conchavos que acabavam nutrindo a corrupção. Seria uma nova forma de fazer política, distanciada dos velhos hábitos e capaz de, com a busca incessante da simplicidade, garantir melhor retorno aos gastos públicos, sem que a redução de gastos implicasse em perdas nas áreas sensíveis.

Tudo isso, por óbvio alimentando um ambicioso programa de desburocratização, em que uma das etapas – que já poderia estar concluída – estaria voltada para o sistema tributário. A receita que não vingou, tomada a ferro e fogo, contém pelo menos os elementos essenciais do programa que as excelências de Brasília não conseguem, não podem, ou não querem desenhar.

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