EDITORIAL | Andando em círculos

A inflação, medida pelo IPCA-15, chegou a 1,14% no mês de setembro, pior resultado mensal desde o lançamento do Plano Real em 1994, e acumula, no período de 12 meses, 10,05%, rompendo pela primeira vez em 27 anos a sempre temida barreira dos dois dígitos. Na explicação oficial, por regra desfocada, estamos diante do reflexo esperado da crise mundial provocada pela pandemia e o alívio está próximo.
Sobra otimismo e falta realismo, numa conta que não inclui, em primeiro lugar, o desastrado e injustificado alinhamento dos preços dos derivados do petróleo ao mercado internacional, com um salto nos preços dos combustíveis e reflexos em toda a economia, perversamente afetando principalmente os alimentos, justamente os gêneros de primeira necessidade.
Objetivamente, apenas no mês de setembro a energia elétrica teve alta de 3,6%, por conta da crise hídrica e do acionamento de usinas térmicas, a gasolina subiu 2,85% com a variação cambial e mesmo com os preços internacionais do petróleo em queda, e os alimentos, transportados sobre rodas de veículos movidos por motores a explosão, ficaram 1,27% mais caros.
Um pesadelo que é também mais um sinal de que o País prossegue com a marcha a ré engrenada, sem dar sinais da recuperação repetidamente anunciada. E tanto mesmo provável quando é lembrado que o tal “remédio amargo dos juros” volta a ser ministrado em doses cavalares, com altas mensais na taxa de juros básicos de 1%.
Mais uma vez, para conter um consumo que não existe e na tentativa de conter uma inflação que não tem nada a ver com pressões de demanda. Um filme que se repete com o mesmo enredo que o então presidente Itamar Franco deu cabo em 1994 com o Plano Real, fazendo a inflação, que chegara aos 40% em janeiro daquele ano, recuar para 1,5% ao ano apenas quatro anos depois. Nenhum milagre, muito ao contrário, apenas gestão competente.
Infelizmente, no entanto, o esforço inicial bem-sucedido fez com que fosse rapidamente esquecido que a estabilização monetária não era um objetivo em si mesmo, apenas pré-requisito para a realização de reformas que levariam ao crescimento mais rápido e sustentado.
O que veio depois, e já a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso, todos sabemos, com os mesmos erros sendo repetidos, com as despesas e dívida pública crescendo sem qualquer controle enquanto a estabilidade monetária era parcialmente garantida à custa de juros altíssimos, tudo isso com o preço da virtual estagnação econômica.
Andamos em círculos e, pior, parece que o Brasil está voltando ao ponto inicial, mais pobre e mais fraco.
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