EDITORIAL | Apelo ao bom senso
Enquanto na Europa países como Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália e Espanha começam a enfrentar, ao que tudo faz crer, a segunda onda da pandemia, com números que em alguns casos são ainda piores que os registrados por volta do mês de março passado, crescem as esperanças de que vacinas eficazes e, obviamente, seguras, possam estar disponíveis num futuro próximo.
Uma situação extrema, de altíssimo risco, e ainda marcada por grandes controvérsias, inclusive alimentando esperança de um lado e medo de outro. Pior, um debate que deveria se dar exclusivamente nos domínios da ciência, sendo contaminado pela política, o que acaba se transformando num risco adicional.
No Brasil, aparentemente vivendo um alívio temporário, com números no geral declinantes, acontece a mesma coisa, numa politização que beira a insanidade, em que ser contra ou a favor da vacina e da vacinação compulsória ganha coloração política e, sobretudo, indisfarçáveis ambições eleitorais, tornando o futuro ainda mais incerto.
Por exemplo, quando uma das mais acreditadas instituições científicas do País, o Instituto Butantan, em parceria com um laboratório chinês, se declara próxima da resposta tão aguardada, tudo isso assunto de conhecimento geral, mas a origem da vacina se transforma num impasse, desnudando ambições do presidente da República e do governador de São Paulo. Tudo às claras, como se o que menos importasse fosse salvar vidas e prevenir riscos potenciais futuros.
Falta inclusive sinceridade, evidenciada quando o presidente da República, desautorizando políticas do Ministério da Saúde e insinuando que na sua perspectiva estariam em jogo também questões ideológicas, completa afirmando que autorizações de compra só acontecerão com autorização da Anvisa, o que é obvio, para prosseguir dizendo que ninguém será obrigado a tomar a vacina e assim antecipando mais um impasse, já que resultados seguros só podem ser obtidos com completa imunização da população. Desgaste e perda de tempo que já leva alguns a antecipar que a decisão tende a acabar nas mãos dos integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fato é que a situação e todas as suas consequências recomendam, na realidade impõem, convergência de objetivos e de esforços, tendo como único objetivo atender da melhor maneira possível às necessidades da população. Não é, absolutamente, o que tem acontecido, mas ainda cabe esperar, com boa dose de otimismo, que o agravamento da pandemia na Europa e já com sinais inquietantes também na América do Norte, afinal chame os governantes brasileiros à razão.
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