Opinião

EDITORIAL | Aplausos equivocados

EDITORIAL | Aplausos equivocados
Crédito: Sebastião Jacinto Júnior

Em sua passagem por Belo Horizonte na semana passada, onde participou da solenidade de posse do empresário Flávio Roscoe para um segundo mandato à frente da Federação das Indústrias de Minas Gerais e das comemorações do Dia da Indústria, o presidente Jair Bolsonaro ganhou aplausos entusiasmados quando anunciou que pretende determinar imediatamente a recriação do Ministério da Indústria e Comércio. Se nos permitem os animados industriais, tanto eles quanto o presidente da República estão absolutamente equivocados.

Criar ministérios não soluciona problemas antigos e, pior, cria outros, além de gastos que há muito o Estado brasileiro não tem como suportar. Fato, aliás, destacado pelo próprio presidente da República em sua primeira – e vitoriosa – campanha, quando colocou entre suas metas principais exatamente drástica redução no número de ministérios. Uma vez eleito e diante de arranjos políticos que logo percebeu serem inescapáveis, foi revendo pretensões, reduzindo a extensão da prometida poda para assim acomodar aliados de conveniência. Este processo, que não é nada novo, ajuda a compreender por que a Esplanada dos Ministérios em Brasília ficou tão pequena para abrigar a principal estrutura administrativa do governo federal.

Este ponto de vista não tem nada que ver com o reconhecimento da importância da indústria, na sua capacidade de agregar valor à produção primária, gerar empregos de qualidade e mais bem remunerados e transportar a economia, a nossa especificamente, a um patamar mais elevado. Um ministério a mais ou a menos não é o que pode fazer diferença e este é o ponto a ser remarcado. Para começar – e adiante avançar mais rapidamente e com maior segurança –, o Brasil depende de políticas de Estado, permanentes, que apontem rumos e metas, independentemente da vontade ou preferências de eventuais governantes. É nesse contexto que deveria se dar a valorização da indústria, começando pela transformação, em território brasileiro, da vasta gama de commodities minerais e agrícolas, embarcadas no País em estado bruto para ganhar valor nos seus destinos. E terminando com a criação de condições que deem competitividade a uma oferta mais elaborada.

Sem que seja preciso reinventar a roda, trata-se apenas de repetir a receita que o mundo desenvolvido utilizou com sucesso. E sem perder de vista que tal processo passa também por educação acessível e de qualidade, qualificação de ponta e inovação, além de menos burocracia, num Estado mais leve e assim finalmente capaz de fazer o que de melhor precisa e deve ser feito.

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