Opinião

EDITORIAL | Aprendendo a fazer contas

EDITORIAL | Aprendendo a fazer contas
Foto: Divulgação

Mais uma vez o ministro Paulo Guedes, da Economia, perde excelente oportunidade de ficar calado. Em plena pandemia, com o País em recessão e carregando um déficit que não para de crescer, eis que o responsável pela formatação e execução da reforma administrativa declara para quem quiser ouvir que não está preocupado com os vencimentos do alto escalão do governo, que no seu entendimento são até pequenos. Com boa vontade, dá para entender seu raciocínio, mas nunca sua inoportunidade. Segundo ele, o teto fixado, hoje R$ 39,9 mil, é pouco considerando a qualificação que se exige dos escolhidos, o que implica em dificuldades para reter talentos.

Em primeiro lugar, caberia acrescentar que o raciocínio até vale para o próprio ministro, economista e banqueiro muito bem-sucedido, um homem que hoje pode ser considerado rico, em condições de renunciar a ganhos maiores para, em tese, servir ao País. Segundo, e basta olhar em volta, a regra absolutamente não é geral, não sendo exagero ou injustiça, que não são poucos os seus colegas que não valem os supostos R$ 39,9 mil que ganham.

Terceiro, o Guedes, um homem de números e de contas por suposto bem feitas, não poderia retirar de seu raciocínio os “penduricalhos “que acompanham o primeiro escalão, um vastíssimo rol que inclui casa, serviçais, carros e até aviões, sem contar as posições em conselhos de empresas estatais, hoje assumidamente um artificio para engordar, ou tornar mais atraentes, esses postos. E estamos mencionando apenas o que é visível, deixando ao juízo de cada um o que mais podem encontrar quando refestelados numa dessas cadeiras. Exemplos não faltarão num olhar retrospectivo.

No geral, e chamando em defesa do raciocínio aqui exposto, o próprio turn over que acontece na alta administração federal reforça ideia oposta à defendida pelo ministro. E se Paulo Guedes, o homem que tem a chave do cofre, tomasse caminho oposto também estaria sendo inoportuno.

Ele sabe, todos sabemos, que os cofres estão vazios, tão vazios que foram incontáveis as ocasiões em que foi dito que é preciso reduzir gastos, se necessário cortando na própria carne ou, antes, nas gorduras que estão acumuladas no alto da pirâmide, aqui incluídos os demais poderes da República, assunto que não é pertinente ao ministro da Economia, mas onde o tal teto vale no máximo com referência, já que não são incomuns “marajás” que, somados todos os ganhos, vão além dos R$ 100 mil e todo santo mês.

Para terminar, falta dizer que é bastante preocupante que a realidade não seja percebida, justamente pelo homem que comanda a economia, tal como ela se apresenta.

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