Opinião

EDITORIAL | Aprendendo com a crise

EDITORIAL | Aprendendo com a crise
Crédito: Ueslei Marcelino/Reuters

A partir dos anos 70, no século passado, quando o professor Alysson Paolinelli, depois de passagem pela Secretaria da Agricultura mineira, ocupou o Ministério da Agricultura, o Brasil viveu uma revolução no campo, com dois marcos fundamentais. Primeiro, a criação da Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e, segundo, a transformação do Cerrado, antes julgado imprestável, em área altamente produtiva, um dos suportes para o crescimento que aconteceu nos anos seguintes. Foram ganhos de produção e de produtividade, em alguns casos superando as melhores marcas internacionais, colocando o Brasil entre os maiores produtores mundiais de alimentos.

Uma situação que continua evoluindo, com o País batendo ano a ano recordes de produção, mas que não foi equilibrada no sentido de abranger toda a cadeia de produção, dando razão aos produtores que costumam dizer que as coisas vão bem apenas das porteiras de suas fazendas para dentro. Investimentos essenciais, em armazenagem e transportes foram negligenciados ou não acompanharam o aumento da produção, e a produção de insumos críticos, como fertilizantes, até declinou, gerando dependência de importações em volumes crescentes. E riscos que hoje são medidos pelo fato de que nosso principal fornecedor de fertilizantes vem a ser precisamente a Rússia.

Não é preciso dizer mais para que se compreenda o risco da dependência e entendido o equívoco daqueles cuja cartilha prega que um país, ou uma empresa, deve procurar fornecedores onde sejam melhores os preços, sem maiores preocupações com garantias de que suas demandas serão cobertas. Da mesma forma, a falácia da globalização, hoje um tanto fora de moda, que prometia um mundo sem barreiras comerciais e na prática somente ajudou a produzir a desindustrialização em países como o Brasil, que passou a enfrentar riscos tão críticos quanto o fornecimento de respiradores artificiais.

Como são ainda imprevisíveis os efeitos e consequências dos conflitos no Leste europeu, não apenas por seus aspectos bélicos mas igualmente pelas possíveis implicações e desdobramentos das sanções econômicas impostas à Rússia, com potencial para desequilibrar toda a ordem econômica global, cabe observar, refletir e, sobretudo, aprender. Importa sim, e muito que um país, qualquer país, tenha condições e capacidade para atender, com autonomia, suas necessidades básicas.

É de todo desnecessário pontuar que a maioria dos países não tem como atender a este princípio elementar, condição que confere ao Brasil uma enorme vantagem que infelizmente não temos sabido aproveitar.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas