Opinião

EDITORIAL | Aprender custa caro

EDITORIAL | Aprender custa caro
Crédito: Adobe Stock

A ideia do mundo globalizado, em que as fronteiras do comércio dariam lugar ao fim das barreiras, prevalecendo a escolha da melhor oferta, derreteu. Da mesma forma que o sonho americano de abandonar o trabalho pesado, dito sujo, transferindo-o para os mais pobres e reservando-se a produção, tanto quanto possível apenas de inteligência. A estratégia, nesse sentido mais amplo, falhou faz tempo, ainda nos anos 70 do século passado, diante da crise do petróleo, embora tenha prevalecido a transferência de produção para os pontos do planeta em que havia disponibilidade de mão de obra mais barata. Ganharam apenas os chineses, com um crescimento que alavancou toda a economia, hoje já bem perto de alcançar a posição de maior do mundo. Pior, fez das grandes potenciais indústrias dependentes de sua oferta de componentes.

A pandemia e a necessidade de vacinas em grande quantidade em regime de entregas sempre urgentes exibiram os primeiros sinais das consequências das mudanças havidas. No mesmo contexto veio a crise dos semicondutores, que representou grandes perdas para a indústria eletrônica e de material de transportes e, mais recentemente, sinais de que o mesmo pode acontecer com  vidros. Tudo para fazer o mundo entender que autonomia no que toca a suprimentos críticos faz muito mais sentido que a globalização, tal como apresentada e praticada até agora.

E as peças começam a se mover, justamente a partir dos Estados Unidos, que recentemente anunciou um programa de investimentos bilionários voltado exatamente para a produção de semicondutores. Algo que deve merecer muita atenção, especialmente em países como o Brasil que exatamente nesse momento está fechando sua única – e modesta – fábrica de semicondutores, localizada no Rio Grande do Sul. No raciocínio estreito, apenas mais uma estatal que fabricava prejuízos.

Melhor saber que executivos da indústria automotiva e representantes do governo federal se encontram no Japão, discutindo com empresários locais a reativação da Unitec, cuja fábrica foi construída na cidade de Ribeirão das Neves, está pronta e poderia estar funcionando, mas na verdade nunca produziu um único chip. Fácil entender o porquê dessa situação, que permanece mesmo com o reconhecimento de que a infraestrutura erguida é de primeira qualidade. Estranho que mineiros não façam parte dessa delegação, mas ainda assim cabe esperar – e torcer muito – que os viajantes retornem ao País trazendo na bagagem perspectiva concreta de futuro para a Unitec, empreendimento que poderá ser crucial para o futuro da indústria brasileira.

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