Opinião

EDITORIAL | As bondades fora de hora

EDITORIAL | As bondades fora de hora
Crédito: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

As incertezas no campo da economia, que já eram grandes, tornaram-se ainda maiores depois da invasão da Ucrânia, que teve como primeira consequência, globalmente, a escalada dos preços do petróleo e riscos de desabastecimento em áreas críticas. Tudo isso significa preços em alta e consequentemente inflação, situação especialmente delicada para países como o Brasil, que enfrenta um já longo ciclo de virtual estagnação e com sinais cada dia que passa mais fracos de que a situação possa ser revertida rapidamente.

Ruim para o País, ruim para os brasileiros e muito ruim para o presidente da República, que sabe muito bem que suas chances de conseguir um segundo mandato estão diretamente relacionadas com o desempenho da economia. Barrigas vazias, nessas alturas, representam adversário bastante poderoso e se sentar para esperar não é alternativa. Daí a pressa no desenho e apresentação do Programa de Renda e Oportunidade, nome escolhido para um novo pacote de bondades que, conforme anunciado, deverá injetar R$ 150 bilhões na economia, basicamente alargando a oferta de crédito e, assim, pelo aumento do consumo, fazer as rodas da economia girarem com mais velocidade.

A rigor, nada que não tenha sido tentado antes, em outras ocasiões e outros governos, sempre com efeitos modestos na comparação com o prometido e, pior, de curta duração, faltando conteúdo que suporte a expectativa de mudanças consistentes e, sobretudo, duradouras.

Tudo isso e mais o risco, conforme já lembraram economistas independentes, com o risco de que se produza ainda mais inflação, já que a rigor tudo se resume à ampliação da oferta de crédito, orientado para o consumo, não para investimentos, produção, geração de renda e de empregos, opções evidentemente mais consistentes. Pode ser que tais artifícios pesem na balança de votos, ajudando a candidatura oficial, mas não é provável que baste para virar o jogo, principalmente depois da irritação provocada pela alta de preços dos derivados de petróleo, que evidentemente não afeta apenas quem está ao volante de algum veículo motorizado.

Nesse sentido, poderá ser até um alívio para o candidato que persegue a vitória mas ao mesmo tempo diz que preferiria poder estar na praia. Mais uma vez, e para concluir, é preciso registrar que se repete a técnica de sacar contra o futuro, fazendo crescer um buraco que já está demasiadamente grande, deixando para os próximos governos, seja lá quem ocupe a cadeira presidencial, um problema sem tamanho.

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