EDITORIAL | As chances que restam

As proporções e duração da pandemia, algo inesperado, cobra um preço cada dia que passa maior, no caso brasileiro agravado por uma sucessão de erros bem ilustrados no anúncio do novo ministro da Saúde, que disse pretender visitar hospitais para checar se os casos anotados são todos mesmo de Covid. São trezentos mil vidas perdidas e desrespeitadas, são mais de dez milhões de enfermos que esperavam, ou esperam, do Estado brasileiro bem mais que esta mórbida contagem.
O lado humano, evidentemente mais importante, mais sensível, se desdobra, em forma igualmente muito preocupante, na questão econômica. A conta que também não para de crescer, para o Tesouro, para empresas paralisadas ou com seus negócios duramente afetados, para os milhões de indivíduos que perderam trabalho e renda, é igualmente muito pesada e não será quitada com a mera ilusão de que a retomada da economia está logo à frente e será rápida. Nem o discurso oficial, de inspiração eleitoreira, parece mais capaz de confrontar a realidade, mantidas as tentativas de contorná-las com migalhas, com mais do mesmo.
Falta, também neste aspecto, o entendimento elementar da realidade, a compreensão de que não existirão alternativas eficazes se não houver também disposição de quebrar parâmetros, de assumir os riscos de, realmente, fazer diferente, entendendo as circunstâncias e as emergências que se colocam, independentemente da vontade, da posição ou da inclinação política dos personagens centrais e dos coadjuvantes desse drama de inéditas proporções.
Objetivamente, estamos tentando demonstrar que a ajuda emergencial, que será paga por quatro meses, representa muito pouco, o mesmo acontecendo com a suspensão temporária de cortes no fornecimento de água e luz para consumidores inadimplentes ou a prorrogação do recolhimento de impostos. Tudo isso para se transformar numa conta a ser cobrada logo adiante e de quem não terá como pagar. Falta senso, ou o entendimento, da realidade, suas urgências e emergências, num horizonte em que tudo, ou quase tudo, parece absolutamente incerto.
Parece também a chance de fazer diferente, receita que se aplica ao Brasil mas que deveria ser entendida como de uso universal. Somados recursos, conhecimentos, oferta e demanda a um uso mais racional desse potencial seria possível produzir convergência e entendimento, deles nascendo a força para o bem. Com certeza, algo tão próximo da utopia quanto da melhor chance de fazer dos escombros uma construção melhor.
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