Opinião

EDITORIAL | As mentiras convenientes

EDITORIAL | As mentiras convenientes
Crédito: José Cruz/Agência Brasil

Quem aplaude e comemora se apressa a afirmar que o Supremo Tribunal Federal (STF) ao anular o julgamento do ex-presidente Lula em Curitiba e, na sequência, levantar suspeição sobre julgamento relativo a um apartamento, no Guarujá, em Santos, supostamente doado ao ex-presidente, teria ao mesmo tempo absolvido o acusado.

Quem condena, enxerga o STF ocupado, por um perigoso bando de petistas e comunistas, com os mais exaltados reclamando cassação de ministros, quando não o fechamento do próprio Supremo. Claro que não é nada disso, claríssimo que os problemas são outros.

Corrupção no País existiu no passado e existe no presente e, de fato, como já foi dito, trata-se de um processo endêmico que, absolutamente, não distingue cores ou preferências políticas. No caso da ofensiva aos petistas, Lula especificamente, que lembra demais os ataques a Getúlio Vargas, que estaria mergulhado num mar de lama, e a Juscelino Kubitschek, que chegou a ser apontado como um dos homens mais ricos do mundo, não existe virtude e sim ambição. E tudo se resumia, na realidade, a afastá-lo da corrida presidencial de 2018.

Os procuradores de Curitiba, o juiz Moro, a Lava Jato, cumpriram seu papel, mas, perversamente, para o País a um custo que se algum dia puder ser medido, será maior, muito maior, que tudo que possa ter sido roubado ou desviado. Não se fala nisso, não se medem as consequências, e ainda por cima, com boa dose de cinismo, tentam dizer que foi o “povo” que, indignado, exigiu o combate à corrupção, nos termos conhecidos.

Exigiu e continua exigindo, mas não exatamente o que foi feito, embuste que a desmontagem da Lava Jato ajuda a demonstrar. Sim, era preciso jogar Lula, se possível, no fundo de uma masmorra, mas agora o que importa é salvar a pele daqueles que se vestiam de verde e amarelo para bradar contra a corrupção, da qual muitos deles são sócios até mais antigos. Tudo isso e mais e muito a ser explicado sobre acontecimentos mais recentes.

Enquanto isso o Brasil continua afundando e não estamos falando da pandemia, que por mais escandaloso que possa ser, também ajudou a alimentar a corrupção que o presidente da República jura não mais existir no País. Nada a estranhar para quem diz que o desmatamento na Amazônia está sob controle e apresenta o Brasil como um dos campeões da causa ambiental.

Nada disso significa estar de um lado ou de outro e sim estar a favor do Brasil, torcendo para que os brasileiros esqueçam os salvadores da pátria e encontrem alguém que encarne, de fato, um projeto de governo, sem lugar para abrigar as ambições do poder e, menos ainda, suas vantagens espúrias.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas