Opinião

EDITORIAL | As piores escolhas

EDITORIAL | As piores escolhas
Crédito: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

Ao cabo da Segunda Grande Guerra, em 1945, o processo de reconstrução dos países devastados, especialmente na Europa, fez ver que não haveria possibilidade de sucesso nessa empreitada sem um processo de integração. Entre os países da região, tratava-se de somar forças, combinar estratégias e, sobretudo, curar feridas que, de outra forma, levariam a novos conflitos.

A estratégia ajudou a moldar a Europa Ocidental tal como a conhecemos hoje, mas não impediu que União Soviética e Estados Unidos, aliados de conveniência durante a Grande Guerra, rapidamente se transformassem em inimigos, situação que, com altos e baixos, não se modificou nem mesmo após o colapso da antiga União Soviética.

Essencialmente os norte-americanos buscam a reafirmação de seu poder, abalado principalmente pelo crescimento da China, usando como instrumento os aliados agrupados na Otan, ou Nato, num processo de cerco à Rússia, que pode ser facilmente percebido e confirmado pela simples observação dos mapas da região. A Ucrânia, historicamente uma espécie de barreira natural para os russos, foi o limite.

A ruptura e a violência gerada, que a todos os títulos deve ser lamentada, já impactou seriamente a economia global, aparecendo em primeiro plano mais uma vez o petróleo e seus derivados e, dependendo da extensão do conflito, pode provocar danos ainda maiores, sobretudo porque as economias nacionais são interdependentes.

Nesse sentido, os acontecimentos atuais, e até certo ponto também a pandemia, fazem pensar nos riscos dessa situação, de excessiva dependência, especialmente para os mais fracos. Quem se lembra da corrida, ainda recente, por respiradores e vacinas ou percebe agora que a falta de energia poderá provocar grandes estragos na Europa, enquanto o trigo e fertilizantes ameaçam o abastecimento e o agronegócio brasileiro, entende o que se pretende demonstrar. E muito provavelmente concluirá que a globalização, apontada como solução para todos os males, teria sido na realidade tremendo erro estratégico.

Economias nacionais são e aparentemente continuarão sendo complementares, mas a busca da eficiência tem como limites as questões geopolíticas que permanecem, conforme agora se percebe tão facilmente. Absolutamente não há como prever o que virá em seguida, sendo suficiente lembrar as referências ao uso de artefatos nucleares ou a uma terceira guerra. Mais sensato, evidentemente, seria um recuo e, ainda melhor, o entendimento de que um mundo ideal onde de fato exista liberdade e oportunidades para todos, com menos desigualdades, só será possível quando inteligência, recursos e conhecimentos forem mobilizados com este objetivo, não mais justo o contrário.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas