EDITORIAL | As respostas que não vêm

É um dilema atroz. A economia privada está combalida, o setor público carrega déficit e endividamento que não tem mais como suportar e, resultado, a economia anda em marcha a ré, numa involução que significa empresas fechadas, empregos perdidos e o futuro, aquele que faz tempo dizem estar reservado ao nosso País, mais distante.
Diante do quadro assim resumido, falou-se que a primeira tarefa seria reequilibrar as contas públicas, com o choque fiscal que seria feito a qualquer custo. Conversa. Os interesses corporativos muito bem alojados no Estado brasileiro são com toda certeza bem mais fortes que os argumentos técnicos de alguns economistas. Enquanto alguns funcionários do altíssimo escalão, nas três esferas do poder, continuarem pondo nos bolsos, a cada mês, mais que o teto constitucional, enquanto jatinhos oficiais continuarem voando à vontade, dizer que existe disciplina não passa de falácia.
E coisa bem pior quando se verifica, em plena pandemia, que respiradores, espécie de símbolo de guerra contra o coronavírus, foram superfaturados a vontade, o mesmo acontecendo, em larga escala, com outros insumos essenciais ou que hospitais de campanha foram contratados e bem pagos mas não saíram do chão, fica difícil acreditar. E o que pensar dos 600 mil indivíduos que receberam o tal auxílio emergencial sem ter direito a ele? Fralde despudorada ou a mais generalizada bagunça?
É nesse ambiente, ou apesar dele, que a administração federal tenta definir uma estratégia de recuperação da economia no pós-pandemia, aguardado para o próximo ano. Já dissemos aqui que os estragos estão sendo de tal ordem que não há mais como pensar em socorro convencional ou, lembrando o passado, “pacotes” milagrosos que por exemplo prometem créditos a juros que nunca chegam às mãos dos necessitados. Repetimos, será preciso quebrar paradigmas, ou cumprir o elementar princípio segundo o qual não há como sustentar por muito tempo gastos que vão além das receitas.
Tais cogitações nos remetem às evidências de que o próprio governo federal não sabe exatamente o que fazer, porque não tem um plano. São vagas, muito vagas, as versões de que existiria um grupo propondo gastos além do teto, destinados a obras de infraestrutura que reaqueceriam a economia, enquanto o ministro Paulo Guedes se recusa a abrir a carteira. Curioso, ninguém no governo aponta, a sério, na direção do corte de despesas, hipótese descartada às vésperas de eleições. Para concluir, eis o dilema que atormenta a quem pensa e se preocupa.
Ouça a rádio de Minas