EDITORIAL | As suspeitas confirmadas

Enquanto no Brasil decisões se arrastam indefinidas, nos Estados Unidos e na Europa o controle das redes sociais avança, de um lado com multas que se repetem e quase sempre vão além da casa dos milhões de dólares, de outro com a compreensão formada de que o controle das redes representa monopólio que contraria os interesses sociais. É o que nos contam documentos confidenciais vazados do Facebook e que chegaram à imprensa e ao Congresso dos Estados Unidos, representando a confirmação de suspeitas há muito conhecidas.
Absolutamente não estamos diante de um jogo limpo, inocente, movido exclusivamente pelo desejo de aproximar pessoas. Mais uma vez o fantasma toma a forma de algoritmos, algo que a maioria das pessoas nem sabe exatamente de que se trata, mas que são capazes de recolher dados e processá-los rapidamente, indo muito além da inocente, nessa perspectiva, formação de perfis de consumo. Conforme revelado agora, um desses algoritmos fazia bem mais que processar curtidas, compartilhamentos ou comentários, chegando a alimentar preconceitos de toda natureza, além de polarização política. Um risco que até pouco tempo pareceria ficção cientifica e hoje ajuda a explicar muito do que se passa no planeta.
Ainda que tímidos e limitados, o que tende a mudar por imposições governamentais que não parecem distantes, os mecanismos de controle já disponíveis são limitados aos países da América do Norte e Europa. O resto é mesmo o resto, entregue a sua própria sorte, agora diante do risco representado também por equivalentes russos e chineses dessas redes. No caso do Facebook, conforme revelam os documentos agora tornados públicos, revelam que foram realizadas ações objetivas, rompendo com a sempre alegada neutralidade política, para desarticular o Partido Patriota nos Estados Unidos e o movimento Querdenken, na Alemanha, o primeiro questionando as eleições presidenciais de 2020 e o segundo desafiando as medidas sanitárias destinadas a conter a Covid-19.
Se não bastassem, as revelações agora tornadas públicas mostram também que o Facebook não faz moderação de conteúdo em países considerados periféricos, sendo o Brasil, neste caso, uma espécie de exceção, acompanhado de perto pelo menos em períodos eleitorais. Difícil nos parece é acreditar que aquilo que até a pouco eram apenas suspeitas, ainda que fortes, continue como está depois das revelações comentadas. Muito mais se for levado em conta que a chegada da tecnologia 5G multiplica exponencialmente estes riscos.
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