Opinião

EDITORIAL | As voltas que o mundo dá

EDITORIAL | As voltas que o mundo dá
Foto: Freepik

Durante a Guerra Fria, até os anos 80 do século passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi ferramenta das economias mais ricas, Estados Unidos à frente e, na mesma medida, uma espécie de fantasma para as nações periféricas, que nele costumavam enxergar uma das frutas podres do capitalismo. Era a época também da chamada escola de Chicago, que reunia economistas liberais radicais, que ajudaram a estabelecer a ordem que, no final das contas, se transformou em desordem. Mas as coisas mudam e às vezes mudam depressa, a ponto de hoje um economista, Paulo Guedes, que se formou na Universidade de Chicago e abraçou suas teses e opiniões e agora se despede do FMI com ares de mal agradecido, aproveitou o palco da Fiesp para comunicar que “estamos dispensando o FMI”.

Explicando melhor ou esclarecendo os que ainda não entenderam aonde queremos chegar: os economistas do Fundo têm sido críticos da política econômica brasileira e, pior, colocam em dúvida e rebaixam seus resultados, o que levou o ministro da Economia a desclassificar o organismo com palavras bastante duras. O tempo passa, as coisas mudam, mas ainda assim foi uma guinada brusca, aparentemente dos dois lados, com o anúncio de que o escritório de representação que o Fundo mantém no Brasil será fechado no próximo ano, uma vez que o próprio Ministério da Economia comunicou formalmente que não será mais necessário mantê-lo.

Por sua vez, o organismo internacional, hoje aparentemente mais independente de Washington e com uma linha de pensamento, inclusive político, que parece ter assimilado conceitos europeus, disse apenas esperar que a alta qualidade do envolvimento de seu corpo técnico com as autoridades brasileiras prossiga. Não custa nada lembrar que no distante ano de 1959, o então presidente Juscelino Kubitschek, depois de ver recusada ajuda financeira para seu Plano de Metas e não aceitar recomendações como desacelerar a construção de Brasília, também despachou o Fundo.

Depois de 1964 as coisas mudaram, ressuscitada a subserviência que garantiu a reabertura dos cofres, enquanto o endividamento externo crescia além do admissível. De uma forma ou de outra, com boa dose de ironia, foi no primeiro governo Lula, em 2005, que o Brasil liquidou antecipadamente dívidas com o Fundo para, adiante, com o substancial aumento de suas reservas em moedas fortes, entrar no restrito grupo de financiadores do FMI. Tudo isso para permitir que agora, em seus comentários sobre a nova despedida, o Ministério da Economia não tenha perdido a oportunidade de lembrar que o Brasil hoje é credor do FMI. São as voltas que o mundo dá.

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