EDITORIAL | Assalto sem justificativa

Dizia Maquiavel, se não ele algum de seus discípulos, que em política o mal deve ser feito de uma vez e o bem aos poucos. Esta não foi a única das lições do filósofo que chegou ao nosso tempo, mas com certeza é das mais lembradas e praticadas, sobretudo quando os políticos só têm olhos para o eleitor, numa aproximação infelizmente de curta duração e, que nos perdoem as exceções, absolutamente interesseira. É o que acontece presentemente e a questão em tela é o preço dos combustíveis, derivados de petróleo, cuja alta nos últimos anos e a mais direta das explicações para o retorno da inflação com os seus temidos dois dígitos.
O governo atual e o anterior, este carregando nas costas o desatino de impor aos preços internos dos combustíveis paridade com preços internacionais, até há pouco faziam que não estavam vendo e então culpavam – e culpam – a tributação estadual pela calamidade. Ninguém, evidentemente, com disposição bastante para explicar como e porque um país autossuficiente em óleo cru deva abraçar a política altamente especulativa da Opep, movida por interesses que não são os nossos.
Feito o estrago, evidenciada a insatisfação geral e, sobretudo, iniciada a contagem regressiva para votação de outubro, eis que finalmente o assunto entra na órbita dos interesses de políticos, em especial do presidente da República. Algo que não vai muito além de jogo de cena, já assinalaram alguns daqueles que sabem fazer contas, capaz de produzir mínimo alívio e por pouco tempo. As questões centrais, aquelas que realmente interessam, ficam de fora, como se não tivesse a mínima importância esclarecer quando custa cada barril de petróleo extraído pela Petrobras ou, ajudando a piorar o quadro, porque o País, na formulação de sua política para o petróleo e derivados, deixou de investir em refino, permitiu o sucateamento das refinarias existentes, enquanto anuncia a privatização, mais próprio seria dizer desnacionalização do setor.
Estamos falando de algo sério demais, importante demais para o presente e para o futuro do Brasil, enquanto políticos se negam a dar às discussões seu sentido pleno, preferindo como sempre oferecer apenas ilusões de curta duração. Nesse momento e diante das migalhas ofertadas seria oportuno indagar o que pensam da recente escalada dos preços do petróleo, agora movida pelas tensões na Ucrânia. E que eles digam, sobretudo, o que têm a oferecer caso se confirmem as previsões de que em pouco tempo mais o preço do barril de petróleo poderá voltar a romper a barreira dos US$ 100.
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