EDITORIAL | Assim não tem como dar certo

A questão é antiga, vem dos tempos em que o economista Delfim Netto era o todo-poderoso czar da economia. Foi também a época em que, por máxima ironia, em nome da eficiência, da segurança e dos bons resultados, que foi promovida no Brasil brutal concentração do sistema bancário. E foi também o adeus definitivo aos bancos mineiros, até então os maiores e mais sólidos do País, processo que condicionou, para pior, todo o futuro do Estado, com São Paulo conquistando, ou ganhando de presente, a hegemonia.
Foi assim e cabe também destacar que Delfim Netto e seus meninos de ouro, na prática mais poderosos que os generais da época, garantiam de mãos juntas que tudo viria em proveito dos clientes dos bancos, com a competitividade resultando em facilidades, mais crédito a custos menores principalmente. A realidade, também nesse campo, passou distante e todos sabem disso. E só para ilustrar e confirmar: um grande banco estrangeiro – foi nessa mesma época que eles passaram a poder trabalhar no País livres de qualquer restrição – tem no Brasil cerca de 20% de suas operações mas daqui extrai 80% de seus lucros. Para quem depende de crédito, sobreviver e, menos ainda, nesse ambiente é algo muito próximo do milagre.
Não é questão de opinião, muito menos especulação. É a realidade e dela nos dá conta o próprio Banco Central, conforme demonstra seu Relatório de Economia Bancária 2021, divulgado na semana que passou. Ali está dito que apenas cinco bancos, evidentemente os maiores, que operam no País dominam 81,4% da movimentação de crédito. São eles Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander, que também detêm 74,4% dos depósitos, conforme dados de 2021. Nada a estranhar, neste contexto, que o lucro dos bancos somou R$ 132 bilhões, com variação positiva de 49% de um ano para outro. Como que procurando oferecer algum consolo ou tentando remediar o irremediável, o BC revela que houve pequena queda na concentração do setor, especialmente no crédito rural e habitacional, mas não conta que exatamente nas operações menos atraentes os dois bancos públicos que aparecem na lista exibem folgada liderança.
Há que estar suficientemente claro que uma economia que opera submetida a tais condições não pode ser considerada saudável e porque recursos que deveriam irrigar a produção e os investimentos acabam alimentando a especulação. Como dizíamos, tudo isso vem de longe, dos anos 70, da época do “milagre” que não tinha como se sustentar. Tentar enxergar o quanto o País perdeu nestes anos todos ajuda a compreender o tamanho do buraco em que está metido.
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