EDITORIAL | Balança que nos favorece

Muito provavelmente desde o final da Segunda Guerra Mundial o planeta nunca viveu período de incertezas tão grandes quando presentemente, com a repetição do jogo de provocações que aproximam mãos insanas dos tais botões vermelhos que podem representar o fim de tudo. Hipótese improvável porque, vale ainda acreditar, a insanidade não pode ser suicida ou as perdas maiores que os possíveis ganhos.
Mais sensíveis, ou imediatas, serão as perdas econômicas, com um desbalanceamento, já captado pelos mercados de valores, e que de pronto se refletem nos preços do petróleo, em certa medida, e mais uma vez, causa e consequência do que se passa. É nesse contexto que cabe indagar o que exatamente está reservado ao Brasil, cuja inflação avança ameaçadoramente, tendo como causa principal a controversa decisão de alinhar os preços internos dos derivados do petróleo às cotações internacionais.
Com o preço do barril já superando a marca dos U$ 100 e sem que se possa ainda imaginar um teto para esta escalada, existe o risco imediato, óbvio, de que os preços internos disparem, produzindo um efeito dominó absolutamente desastroso. Cabe lembrar, no entanto, que como toda moeda esta também tem um outro lado. Segundo informações oficiais, nosso País exportou no ano passado a média de 1,2 milhão de barris/dia, volumes que tendem a crescer como resultado da situação no Leste europeu.
Tentando compreender melhor o que isso pode significar, estudiosos que tentam desvendar o mais bem guardado dos segredos da Petrobras – o preço final, considerados todos os custos presentes e futuros de cada barril de petróleo extraído – estimam que este valor estaria atualmente em torno dos U$ 15.
Nada difícil fazer as contas e concluir depois de ter alcançado um volume recorde de ganhos no último semestre, a estatal caminha para uma escalada de lucros talvez nunca imaginada.
Exatamente nestes valores pode ser encontrada a margem capaz de possibilitar que, sem qualquer dano efetivo à empresa e tendo em conta interesses muito mais amplos porque dizem respeito a todos os brasileiros, a escalada de preços que se imagina próxima não chegue às bombas com a intensidade imaginada.
Afinal, e repetindo o que já foi dito aqui tantas outras vezes, os bem-sucedidos esforços do Brasil para alcançar autossuficiência em produção de petróleo não podem ser apagados como se tudo estivesse resumido a uma questão de mercado, de ganhos de acionistas, mesmo que obtidos à custa de um monumental prejuízo coletivo. E não é difícil concluir que, neste aspecto pelo menos, tenhamos mais a ganhar que a perder.
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