Opinião

EDITORIAL | Barganha de sempre

EDITORIAL | Barganha de sempre
Congresso Nacional | Crédito: EBC

No que toca à fragilidade da base do governo Lula no Legislativo as previsões se confirmam, muito provavelmente para além do que se imaginava. Alianças construídas a partir de explícita conveniência se revelaram um tanto frágeis, a tal ponto que em votação recente todos os integrantes da bancada de partido aliado disseram “não” ao próprio governo. Foi, para o presidente da República, algo como o transbordamento de um copo que já estava no seu limite, forçando mudança de atitude na forma de cobrança mais contundente de fidelidade acompanhada, como de costume, de novas e maiores concessões.

Nada que possa surpreender num país em que o pluripartidarismo tomou proporções inviáveis, onde a reforma política foi varrida para debaixo de algum tapete palaciano e a filosofia do “é dando que se recebe” continua sendo praticada abertamente e sem qualquer tentativa de disfarce, com o agravante de crescer de proporções. E com a receita de sempre que tomou a forma de mais um pacote de benesses, com a promessa oficial de liberação de emendas, para os aliados, é claro, num total próximo de R$ 10 bilhões. Tudo isso sem qualquer garantia de efetiva contrapartida, longe disso. No país das siglas partidárias de aluguel e onde ministros são escolhidos não por reconhecida capacidade e sim pelo número de votos que possam oferecer em troca, nada a estranhar.

A rigor só se pode estranhar que alguém possa confiar em fidelidade e adesão que tem preço, tudo negociado abertamente e sem qualquer tipo de disfarce. Na mesma medida que não se possa esperar desse alinhamento comprado consistência para garantir votações que são essenciais para que o governo implemente ações, no campo administrativo, que sustentem seus projetos. A rigor, o que pode mesmo ser esperado é que a cada votação mais relevante surjam novas cobranças, sem que nunca exista garantia efetiva de fidelidade e suporte.

Assim tem sido e, tudo faz crer, assim continuará enquanto houver fidelidade colocada à venda e quem se disponha a comprá-la. Sobre o País, suas carências e suas urgências, sobram dificuldades e desafios que são amplamente conhecidos, poucos, pouquíssimos, têm o que dizer. E da mesma forma que não denunciam os desvios transformados em práticas regulares, quase o fio condutor das práticas políticas que não são reconhecidas como absolutamente dissociadas do interesse coletivo. Longe também de parâmetros de gestão pública que mereçam ser entendidos como tal e do qual possam ser esperados resultados.

Afinal, a barganha institucionalizada apenas coloca o Brasil e os brasileiros mais distantes de suas verdadeiras demandas.

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