Opinião

EDITORIAL | Batalha perdida

EDITORIAL | Batalha perdida
Crédito: ACERVO RIO DE JANEIRO - TUVA EDITORA

A criminalidade no Rio de Janeiro atingiu proporções tais que, em 2018, foi decretada intervenção federal no vizinho Estado, restrita, por uma espécie de delicadeza política, às questões relativas à segurança pública. Com um general do Exército à frente das operações, prometia-se muito para pouco tempo, um ano, de intervenção. Ainda assim, para a população carioca pareceu muito, algo sem precedentes e, afinal, a partir de atitudes concretas, a esperança do fim de uma situação há muito insuportável.

A rigor não aconteceu nada e nada mudou, pelo menos não para melhor, reforçando a ideia de que parte significativa do território carioca já não é controlada pelo Estado e forças públicas. Ao mesmo tempo são fortes as evidências de que o crime organizado e as milícias já não ocupam exclusivamente os espaços próprios da marginalidade, tendo se entranhado, direta e indiretamente, também na política formal, com seus integrantes ou prepostos ocupando cargos eletivos e influindo cada vez mais no processo político. A simples falta de um balanço cabal sobre a ocupação e seus resultados, o silêncio que tomou conta do tema, passados mais de três anos, reforça as suspeitas. Tanto quanto, evidentemente, a falta de resultados.

Tão grave quanto a situação descrita, em que a criminalidade passa a ocupar, abertamente, setores do comércio e de áreas de serviço, controlando por exemplo os serviços de televisão a cabo nas comunidades e, segundo dados recentes, nada menos que 85% do comércio de GLP, é a imobilidade na esfera pública, que parece não ter forças nem disposição para enfrentar o crime, conforme ficou evidente durante a comentada intervenção. E a impunidade claramente acaba por se transformar num convite, numa escalada diante da qual não há como compreender a passividade do Estado.

Vale para o Rio de Janeiro, vale para São Paulo, estados em que o crime organizado, tendo como atividade básica o tráfico de drogas, e as milícias, que ironicamente teriam surgido justamente para responder à criminalidade, controlam principalmente serviços destinados à população mais pobre, emitem sinais constantes de que ampliam suas atividades e domínios, alcançando inclusive outros estados, em especial no Norte-Nordeste.

O que parece sobrar é a constatação de uma estranha normalidade, ou naturalidade, sem que a esfera pública seja capaz de reagir sequer aos cabeças dessas organizações, a maioria presidiários que não perderam nem autoridade nem capacidade de comando. Tudo tão banalizado que, embora algumas pesquisas de opinião coloquem a segurança pública entre as maiores preocupações dos brasileiros, nem assim a aproximação de eleições faz ressurgir, com a intensidade impositiva, um debate que parece adormecido.

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