Opinião

EDITORIAL | Bem pouco a esperar

EDITORIAL | Bem pouco a esperar
Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

O volume de chuvas este ano foi excepcional, implicando em inundações, deslizamentos ou bloqueio de rodovias também sem precedentes, ficando como saldo positivo exclusivamente a recuperação dos reservatórios que servem às grandes usinas hidrelétricas. Os relatos sobre os desastres ocorridos, especialmente na região serrana fluminense, já se perderam no rol dos assuntos transformados em manchetes, da mesma forma que não se fala mais sobre trabalhos de recuperação e de prevenção, o que significa concluir que quando as chuvas forem novamente mais intensas tudo se repetirá, o que pode acontecer já no próximo ano, até antes dependendo do clima.

Nada de novo, nada que possa surpreender na avaliação, pelo menos para quem se recorda de acontecimentos anteriores, também em Petrópolis e Teresópolis, quando também as vítimas foram contadas às centenas. Ainda assim, no intervalo de pouco menos de dez anos, não aconteceram mais que remendos, enquanto os fatores de risco, como ocupação de encostas, continuaram crescendo. Pior. Recursos prometidos e liberados não chegaram ao seu destino e as evidências de desvios são fortes como de costume.

Estas duras lembranças nos ocorrem por conta da divulgação de informações vindas de Brasília, dando conta de que os ministérios do Desenvolvimento e da Infraestrutura reconhecem que não existem verbas para contenção de encostas e ações para evitar inundações ou recuperar estradas e equipamentos públicos destruídos no verão passado.

Se as inundações, mais ou menos graves, têm data marcada, como já acontecem, por exemplo, na cidade de São Paulo, o que ocorre com o sistema rodoviário tem o agravante da permanência, a estas alturas independendo das chuvas. Estudos realizados por entidades que representam o transporte rodoviário de carga indicam que pelo menos 70% das rodovias brasileiras apresentam más condições de uso e segurança, representando riscos e elevação de custos, enquanto não mais que 10% da malha rodoviária merece ser definida como de boa qualidade. O resto, como os acidentes que se multiplicam, é a consequência esperada.

Pior ainda é saber que os cofres públicos acabaram esvaziados em grande medida por conta de acertos políticos, de conveniência e nada republicanos, que renderam fartas verbas ditas secretas para livre uso de parlamentares, enquanto também mínguam, ao nível da irresponsabilidade, recursos para áreas tão sensíveis quanto saúde e educação. Mais grave ainda é verificar que ninguém, dentro ou fora do governo, tem propostas das quais se possa esperar que pelo menos coloquem um fiapo de luz no horizonte.

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