Opinião

EDITORIAL | Bons sinais e novos riscos

EDITORIAL | Bons sinais e novos riscos
Crédito: Pilar Olivares/Reuters

Apesar das dificuldades que prevalecem, muito especialmente no campo sanitário, a economia brasileira apresenta, conforme anotam serviços especializados dos principais bancos, animadores sinais de recuperação. Os mais otimistas apontam que o crescimento anualizado do Produto Interno Bruto (PIB) poderá chegar bem próximo dos 5% até dezembro, com previsões também de crescimento de investimentos no segundo semestre. Nos últimos dias o comportamento do câmbio e do mercado de capitais refletiu esta reversão de expectativas, enquanto cresceu também o nível de confiança do empresariado.

São indicativos a comemorar, ainda que num ambiente em que a pandemia prossegue como a grande incógnita, o número de mortos se aproxima de meio milhão e o programa de vacinação não avança com a celeridade desejável e absolutamente necessária. São, evidentemente, variáveis a considerar, da mesma forma que as notícias mais recentes sobre o regime de chuvas, caracterizado pela pior estiagem no Centro-Sul em 91 anos, causa preocupação. Como já foi dito, é um risco a mais, não sendo descartada a hipótese de um novo apagão, além de impacto no preço da energia, consequência da ativação de termelétricas, com indesejáveis reflexos na inflação, questão que volta a ser sensível.

Com os reservatórios das principais hidrelétricas com sua capacidade reduzida a 32%, muito abaixo da média dos últimos 20 anos e com baixas expectativas de recuperação natural, cogita-se até mesmo de impor restrições à irrigação, assim como não está descartada, em áreas mais críticas, a possibilidade de racionamento. Diante do quadro apresentado cabe registrar, em primeiro lugar, que o setor elétrico brasileiro padece, há décadas, de investimentos compatíveis com a expansão da demanda ou até com sua simples manutenção, numa fragilização que só não provocou consequências ainda piores porque a demanda não cresceu nos níveis esperados. Tivesse sido diferente, neste aspecto, e estaríamos todos no escuro, dependendo das velhas lamparinas.

Tudo isso consequência de erros, inclusive no campo ambiental, que foram sendo acumulados ao longo do tempo, condenando o sistema elétrico brasileiro à fragilidade em que se encontra, refletindo também as limitações e omissões da gestão pública, num processo que ajuda a comprometer a própria atratividade da economia brasileira. Só cabe esperar que este histórico finalmente sirva de alerta, induzindo transformações consistentes e nos livrando definitivamente dos paliativos.

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