EDITORIAL | Bons ventos a aproveitar

Em termos de economia global, a queda de negócios, investimentos, renda e empregos já foi comparada, e com aval tanto do Banco Mundial (Bird) quanto do Fundo Monetário Internacional (FMI), à crise de 1929. Só não se esperava, apesar da intensidade e duração da pandemia, que a reação pudesse ser rápida, em termos globais, conforme vem acontecendo a partir dos Estados Unidos e China, evidentemente com efeitos que se irradiam.
Nessa conta entra o Brasil, que, apesar das fragilidades bem conhecidas, pode chegar ao fim do ano com um crescimento expressivo. São números, afinal, que podem mudar a direção dos ventos, ainda que o crescimento esperado tenha como base de comparação um período em que estivemos.
Tratando do assunto, em comentário recente neste mesmo espaço, falávamos da questão da oferta de energia elétrica, comprometida este ano, por conta da falta de chuvas, já a um nível crítico, assinalando que a situação representa riscos para a aguardada retomada. Sobretudo considerando que, apesar de algumas ressalvas, como a não realização das reformas e pouca disciplina no controle de gastos, são concretos os sinais de que investidores voltam a se movimentar, em parte porque existe excesso de oferta de capitais no mundo e o Brasil, apesar dos pesares, continua sendo um porto atraente, enquanto empresários no geral, aqueles já estabelecidos, se dizem mais confiantes.
Só se pode esperar e desejar que estes cenários se confirmem e seus resultados venham acompanhados de maior disciplina e qualidade nos gastos, além de melhoria na gestão pública. E, sobretudo, forte incremento na vacinação, de todos o elemento mais importante para a volta da normalidade. Tudo isso, com o otimismo e confiança que são elementos fundamentais, e mais a compreensão de que a volta do crescimento não se dará por milagre e, mais, não se sustentará se não for – bem – tratada a questão do gap de infraestrutura, que evidentemente não se limita a questão da oferta de energia elétrica, mesmo que com o ágio representado pela operação das termelétricas.
Cabe também recordar, seguindo o raciocínio, que ao contrário do esperado e prometido, mesmo deixando de lado as dúvidas que possam existir, que os programas de privatização e as concessões, que seriam a resposta num contexto de restrições orçamentárias fortíssimas, também não andaram com a velocidade esperada. Por óbvio, são fatores a considerar e providências a tomar para que, final, os bons ventos possam inflar as velas do crescimento econômico, em condições que, afinal, representem não mais um voo de galinha e sim a possibilidade de crescimento sustentado.
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