Opinião

EDITORIAL | Brasil sem máscaras

EDITORIAL | Brasil sem máscaras
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

O governo Bolsonaro parece viver diante de uma situação paradoxal. De um lado, assiste, embevecido supõe-se, pesquisas de opinião registrando aumento de sua aprovação.

De outro, não tem como negar que está perdendo substância, representada pela perda de alguns de seus nomes mais expressivos, como os ministros Moro e Mandetta, enquanto assiste à debandada no Ministério da Economia, que já perdeu o empresário Salim Mattar, enquanto crescem rumores de que o ciclo de Paulo Guedes pode estar próximo ao esgotamento.

De outro lado, são a cada dia que passa mais nítidos os sinais de que a “nova” política vai aos poucos sendo engolida pela velha política. A respeito, será suficiente dizer que o novo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, serviu com o mesmo entusiasmo aos governos Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer.

Para completar, e retomando seu estilo contundente, o empresário Salim Mattar depois de pedir demissão disse que os verdadeiros liberais do governo “cabem num micro-ônibus” para adiante deixar registradas suas impressões mais fortes: “O que mais vi na Esplanada é que o Estado deseja se proteger contra o cidadão. Não há interesse do Estado em servir ao cidadão. Raramente vemos coisas que são a favor do cidadão. Isso me deixou muito preocupado. Temos um Leviatã (metáfora do Estado como soberano absoluto e com poder sobre seus súditos que assim o autorizam através do pacto social) bem maduro aqui no Brasil”.

Tudo isso nos remete a uma outra citação, igualmente pertinente, do ex-governador Tancredo Neves, que começou sua vida política como prefeito de São João del-Rei e contava ter sido procurado por uma pessoa que, insistentemente, amanhecia na sua porta e, afinal atendido, disse que fora pedir um emprego.

Tancredo respondeu que ele estava “na porta errada” pois sua gestão “seria moderna e técnica e não pautada pelo empreguismo. O visitante, talvez tão calejado quanto o anfitrião, respondeu: “Todos quando assumem vêm com este discurso, depois mudam. Quando o senhor mudar espero que se lembre de que sou o primeiro da fila”.

São amostras, pequenas, da realidade despida de seus adereços de conveniência. Algumas mais novas, outras mais antigas, mas que se juntam para formar um retrato absolutamente atual, mas preocupante, tendo em vista o tamanho dos problemas que o País enfrenta presentemente. E mais uma vez podemos recorrer a uma imagem de enorme simbolismo. Enfrentamos uma pandemia bem perto de produzir 110 mil vítimas fatais e há quatro meses o Ministério da Saúde está ocupado por um interino.

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