EDITORIAL | Brincando com fogo

Nesse país de hábitos e costumes um tanto diferentes, formalmente, o processo eleitoral, tendo em mira a votação de outubro, ainda não foi iniciado, faltando ainda apresentar candidatos e chapas, para que só então a corrida possa de fato começar. É o que dizem os políticos, inclusive aqueles candidatíssimos, fazendo saber que o respeito à verdade, por extensão ao que se espera de quem se apresenta como representante do povo é questão que deixou de ter a mínima importância. Tudo isso enquanto no mundo real a corrida eleitoral já tomou embalo, puxada, conforme a regra, por quem tem a caneta e assim poder para distribuir favores e comprar apoios.
Nesse particular, fica no ar mais que a impressão de que todos os limites vão sendo ultrapassados, culminando agora com um projeto muito apropriadamente batizado de kamikaze, que significa espetar na conta do Tesouro mais um vale de pelo menos R$ 100 bilhões, destinado principalmente a subsidiar combustíveis, com o que se imagina seja possível adular os caminhoneiros e sua nunca esquecida ameaça de “parar o Brasil”, ao mesmo tempo em que dando uma espécie de refresco aos consumidores, os mais pobres e perversamente justo os que carregam a parte mais pesada dessa conta.
Este foi o assunto dominante em Brasília na semana que termina, assanhando políticos, pelo menos aqueles sempre à espera de um impulso capaz de turbinar seus votos, e preocupando quem, de uma forma ou de outra, tem responsabilidade pelo que pode vir a acontecer. Caso do ministro da Economia, Paulo Guedes, que aparentemente sequer foi consultado sobre a matéria, mas não disfarçou sua irritação, antecipando a devastação que os kamikazes poderão produzir, do câmbio à inflação, numa soma de erros que adiante poderão produzir uma situação incontrolável.
Devido observar que embora as pesquisas de intenção de votos não confirmem a possibilidade, não se pode deixar de considerar que a bomba que está sendo produzida pode acabar explodindo no colo de quem agora a está armando, evidentemente sem avaliar a extensão dos riscos. Fato é que, como dizíamos no início desse comentário, a campanha ainda nem começou, mas a corrida para produzir aliados de conveniência e transformá-los em votos ganha velocidade e uma escalada de absurdos onde não se pode notar qualquer sinal de pudor ou mesmo noção real da proporção dos estragos que serão feitos nas já debilitadas contas públicas.
Fica a certeza de que estão brincando com fogo e sem qualquer cuidado, restando saber quem, afinal, sairá mais queimado.
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