Opinião

EDITORIAL | Brincando com fogo

EDITORIAL | Brincando com fogo
Crédito: REUTERS/Bruno Kelly

O presidente Jair Bolsonaro andou calado, dizem que aconselhado por pessoas próximas, deixando de bater na tecla dos riscos, ou falhas, do sistema de recolhimento e apuração de votos no País. A trégua aparente durou pouco. Ele já voltou à cena para repetir que o sistema, que o elegeu, não é confiável e sujeito a fraudes, acrescentando que na eleição passada teria sido eleito ainda no primeiro turno, não tivessem ocorrido fraudes sobre as quais ele não aponta qualquer evidência ou prova. Parece uma manobra bem ao seu estilo, quem sabe para que possa contestar eventual derrota mais tarde e, pior, manobrar fora das tais “quatro linhas da Constituição”, que ele tanto gosta de citar.

Nessa linha e em várias ocasiões o presidente da República, que deixou de falar em “meu exército”, sabe-se lá o que isso possa significar no mundo real, apontou as Forças Armadas como vigilantes guardiães do processo, acrescentando mesmo, e com fina ironia, que elas teriam disposição para intervir, caso necessário. Como se percebe, conversa nada original e que nos remete a momentos sombrios de nossa história. Afinal, qualquer constitucionalista bem formado demonstra facilmente que estas não são atribuições dos militares, aos quais não compete sequer fiscalizar o pleito ou, pior ainda, fazer contagem e apuração paralelas, conforme a mais recente sugestão, ameaça talvez, do senhor presidente.

Claramente a arapuca está sendo armada, na melhor das hipóteses para justificar uma derrota que, segundo os institutos de pesquisa mais acreditados, parece certa neste momento. Diante do quadro, não é razoável que as próprias Forças Armadas permaneçam em silêncio, dessa forma coniventes com as anomalias em curso. De outra parte, chama atenção reações do presidente do Senado e até do presidente da Câmara, este apontado como aliado fiel, defendendo a normalidade democrática, que reconhecem como opção intocável da maioria dos brasileiros. Da mesma forma, as reações, que vão subindo de tom, das mais altas instâncias do Judiciário, seja para reafirmar e garantir a integridade do sistema eleitoral, seja para reiterar que não existem mais espaços no Brasil para aventuras à margem da democracia, que não serão toleradas.

São, afinal, momentos de alta tensão, para além do que se pode esperar das disputas eleitorais. Momentos, portanto, de vigilância absoluta, de reação contundente a qualquer movimento que possa ser sinônimo de retrocesso, sobretudo se produzido com manipulação e inverdades associadas a antigas técnicas de confundir e gerar medo, tudo isso agora multiplicado quase ao infinito com o uso dos modernos instrumentos de comunicação. Eis a realidade.

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