Opinião

EDITORIAL | Caminhando sem direção

EDITORIAL | Caminhando sem direção
Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As dificuldades que o País enfrenta no campo econômico, medidas pelo baixo crescimento, pelo déficit público, endividamento crescente e redução de investimentos, significa retrocesso cuja recuperação será difícil e lenta. Notadamente no que toca à significativa redução de investimentos em educação, cultura e pesquisa científica, de certa forma para uma nação a mais dura forma de involução. E o quadro é ainda pior quando se percebe um fenômeno paralelo, a chamada fuga de talentos, pessoas bem formadas e qualificadas, que, não encontrando mais espaço de trabalho na sua própria terra, estão se transferindo para o exterior. Por perversa ironia, não produzimos cultura, não produzimos saber, mas somos também exportadores desses insumos sobre os quais não será exagerado afirmar que representam a base de tudo. Do futuro principalmente.

No campo do saber, o Brasil vive uma espécie de diáspora, perdendo, em proporções inéditas, as pessoas mais bem qualificadas, pesquisadores principalmente, que se rendem à tentação do trabalho no exterior, não necessariamente procurando maiores salários e sim melhores oportunidades, condições de trabalho e reconhecimento. Na bagagem levam o conhecimento acumulado, de ponta, além do investimento público que não é sequer reconhecido. Um processo de virtual sucateamento, nutrido na ignorância, que começa na renumeração de jovens pesquisadores, cujas bolsas não são reajustadas desde 2013. Hoje um aluno de doutorado no Brasil recebe R$ 2,2 mil de bolsa, com dedicação exclusiva, sem direito a férias, contagem de tempo previdenciário, FGTS ou qualquer direito.

Quem atinge o ponto fraco é uma mestranda em sensoriamento remoto, que faz as malas para partir, faltando apenas escolher entre bolsas de estudos na Holanda ou na Austrália. Isto significa também, como aponta o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que o Brasil na prática está financiando países ricos, entregando mão de obra qualificada e perdendo o desenvolvimento interno que eles trariam. Talvez a explicação para constatação, uma outra brasileira, que trabalha com pesquisa científica há 8 anos e diz que nunca foi tão bem reconhecida como está sendo atualmente no Canadá.

Fácil entender o que isso nos custa de involução ou quanto custará, em tempo e dinheiro, a recuperação, caso venham a existir condições objetivas para isso. Difícil é entender que crime dessas proporções tenha tudo para ser premiado com a impunidade.

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