EDITORIAL | Caminhar sem rumo

A instabilidade política ganha mais um elemento com a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que tem por missão principal averiguar a conduta do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia e sua provável contribuição para o agravamento das condições sanitárias no País.
Assim está posto e, de fato, é imperioso entender o que se passa, principalmente determinar se houve culpa e omissão da parte do presidente, com um sentido de urgência que salta à vista quando são divulgados dados relativos à questão e ao processo de vacinação. Assuntos, vale também lembrar, que já alcançam repercussão internacional e em termos nada lisonjeiros.
Contudo, entre o que é dito e o que será feito poderá existir perigosa distância, com os cordões sendo manobrados, mais uma vez, não exatamente para chegar à verdade, ao melhor interesse coletivo. Poderá ser apenas um jogo de poder, uma espécie de barganha em que calejados políticos, como o ocupante do importante cargo de relator da CPI, recém-imerso das sombras, tido como oponente do presidente da República, não fará mais que demonstrar que a velha política está mais viva do que nunca.
Para um país absolutamente fragilizado, seja por conta da questão sanitária, seja pelo somatório de problemas de gestão que agravam os problemas econômicos e reduzem as chances de uma recuperação mais rápida, este não é um bom cenário.
Todos, absolutamente todos e especialmente os agentes públicos, deveriam, neste momento, estar com suas energias voltadas para a saúde pública, para encontrar meios e modos de acelerar a vacinação, sabidamente a única forma de controlar o vírus e deter a pandemia. Premissa, ao mesmo tempo, para avanços na economia, capazes de retirar da linha de extrema pobreza milhões de brasileiros, alimentar os que têm fome, devolver empregos aos que não têm onde trabalhar e, aos empreendedores, chances elementares de sobrevivência, sem o que as rodas da economia não têm como girar.
Não existe, ou não deveria existir, espaço para política de interesses e conveniências particulares, do poder, seja ele em que mãos estiver, sustentado pela troca de favores, pela prevalência do nefasto “é dando que se recebe”, da velha política que parece mais viva e mais forte que nunca. Corrigir os erros que fizeram com que o Brasil chegasse a tão triste condição, sob riscos de proporções que não têm paralelo com qualquer outro ponto da história, passa a ser condição impositiva para que continue viva a possibilidade de olhar para a frente, de poder esperar o amanhã.
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