Opinião

EDITORIAL | Cavando mais fundo

EDITORIAL | Cavando mais fundo
Crédito; Freepik

Lembra a sabedoria popular ser impossível manter cheia uma caixa d’água em que o cano de saída é de bitola mais larga que o de entrada. Uma imagem para nos fazer lembrar que não se pode sustentar por muito tempo uma casa, uma empresa ou um sistema público em que os gastos são maiores que os ingressos de recursos.

E verdade elementar que por muito tempo o Brasil tem ignorado, levando-o a acumular um déficit crescente e já não muito distante de uma situação insustentável. Assim como o excesso de gastos é assunto recorrente, estão na mesma condição os apelos à razão, sobretudo quando se fala em cima de um palanque, acompanhado de promessas de ordem e disciplina, do ajuste fiscal que não acontece quando tromba com os interesses que serão contrariados.

Tem sido assim e continua sendo assim, o que nos lembra, para não recuar muito no tempo as reiteradas promessas de reajuste fiscal feitas durante o governo Temer e reiteradas na campanha de seu sucessor que, ao seu estilo, condenava um passado que seria apagado com o fim de um Estado gordo e ineficiente, ainda por cima corrupto. Viriam medidas drásticas, ministérios seriam extintos à larga, cargos e empregos seriam cortados e vantagens abusivas simplesmente apagadas.

O governo já atravessou a metade de seu percurso e, a rigor, nada de relevante aconteceu. Por falta de condições políticas, forçoso reconhecer, mas igualmente por falta de vontade e até por apego às regalias que, condenadas de longe, logo se revelaram saborosas quando vistas mais de perto. Tudo isso sem contar a força, sempre maior, do corporativismo.

O desequilíbrio estrutural, algo comparável à tal herança maldita de que tanto se falou, piorou, e muito, com a chegada da pandemia, que de um lado exigiu gastos que não eram previstos e de outro fez encolher receitas, aumentando o buraco e adiando o futuro que teima em não chegar, enquanto economistas fazem contas para concluir que o descontrole da dívida pública, que o Banco Central avalia como equivalente a 89,7% do PIB nacional, está muito perto de um limite crítico. Nada porém que pareça assustar de verdade, nada que faça mudar velhos hábitos.

A caixa está vazia, o País está quebrado, diz o próprio presidente da República, mas o mundo oficial continua se comportando como se nada estivesse acontecendo, agarrado às regalias que se antes eram representadas por carros oficiais, agora podem ser medidas em horas de voo dos jatinhos que servem às excelências, ou a procuradores públicos que reclamam, ofendidos, não terem recebido telefones celulares de última geração, ainda que da marca mais sofisticada disponível.

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