EDITORIAL | Cavando mais fundo

Uma conversa tão antiga quanto repetitiva. Já nos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso, e para não recuarmos muito no tempo, o enaltecido programa de privatizações era apresentado como uma espécie de milagre. Primeiro, porque livraria o País da parte mais pesada da corrupção, devolveria eficiência e competitividade a empresas, promovendo concorrência que aliviaria os bolsos dos consumidores. De quebra, ajudaria o País a livrar-se da parte mais pesada da dívida pública.
Quase um milagre que não aconteceu, embora os argumentos continuem sendo os mesmos, inclusive, agora, para justificar a venda do prédio do Ministério da Educação no Rio, assinado por Le Corbusier, e um dos marcos, no mundo, da arquitetura moderna. Deveria ser um museu, ou um monumento, mas pode acabar como sede de alguma grande empresa, com seus murais de Portinari e jardins de Burle Marx, além da própria arquitetura de Niemeyer.
Para resumir, no passado como agora os governantes prometem o milagre de continuar gastando cada vez mais e ainda assim dar fim ao endividamento que nos sufoca. As privatizações estão nesse rol, mesmo que nos tempos de FHC, empresa como a antiga Vale do Rio Doce tenha sido vendida a preço de banana e a rigor nada contribuíram para a virada que não aconteceu. Ainda que para o mal, são pelo menos criativos.
Agora mesmo estamos diante de outra ideia brilhante. Primeiro, o parcelamento de precatórios, hoje em dia quase uma ficção, agora a proposta de antecipar a receita das futuras vendas de petróleo do pré-sal, com potencial de render algo como uns R$ 400 bilhões.
Não tenhamos ilusões, ninguém está procurando encontrar soluções para os verdadeiros problemas do País. De uma forma ou de outra estamos diante do mais do mesmo, tanto que ninguém, no governo pelo menos, menciona a antiga – alguém se lembra? – questão do ajuste fiscal. Tanto os problemas quanto os interesses são mais imediatos e as soluções procuradas são simplesmente para que se possa continuar gastando, principalmente pagando os agrados que são de muita importância para as eleições do próximo ano.
Tudo isso com a mesmíssima receita de sempre, aquela que deixou como herança uma dívida que nos afunda. Trata-se, em bom português, apenas de empurrar com a barriga, de continuar adiando soluções, sem mudar nada, enquanto os problemas vão se agravando e as soluções ficando mais distantes. Mais distantes e ainda mais graves, principalmente quando o presidente da República diz que estamos quebrados e seu ministro da Economia acrescenta, como se fosse preciso, que caminhamos à beira do abismo.
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