Opinião

EDITORIAL | Cavando mais fundo

EDITORIAL | Cavando mais fundo
Crédito: REUTERS/Dado Ruvic

Os preços de petróleo voltaram a subir na semana passada, o que significa dizer que o preço do óleo diesel acumula, apenas no ano corrente, alta de 68%, ficando a gasolina nos 31%. Deveria bastar, houvesse bom senso, a apresentação desses dois percentuais para o entendimento de que algo profundamente errado – e insustentável – acontece no País, ainda que  explicações não faltem desde que, em 2016, no governo Temer, a precificação dos derivados de petróleo no mercado interno passou a ter como base a paridade internacional. Algo que não faz o menor sentido, tendo em conta que a cotação do petróleo é permanentemente manipulada, inclusive com variações da oferta, procedimento movido exclusivamente por motivações políticas.

Para resumir, uma base que não tem nada de real e muito de especulação, não fazendo o menor sentido, do ponto de vista dos interesses brasileiros, seguir este modelo, sobretudo se considerado o volume atual de produção e, evidentemente, o custo do óleo extraído. Só não enxerga quem teimosamente não quiser enxergar ou não entende que os interesses nacionais vêm antes do interesse de acionistas da Petrobras. Muito menos hoje, como tem sido dito neste espaço, quando o volume de preços do óleo bruto exportado supera em muito o custo das importações de refinados.  E é neste ponto que reside o erro que nos fragiliza.

Como é sabido, a produção brasileira de óleo bruto é largamente suficiente para cobrir a demanda interna, mas o mesmo não acontece com os refinados, porque a demanda cresceu e a capacidade de refino do País encolheu. Este sim foi um erro muito grande, transformando-se no elo fraco da corrente e dessa forma o ponto a ser reforçado. Mudar sucessivamente as diretorias da Petrobras e tentar fazer crer que os interesses dos acionistas estão acima de tudo e de todos é uma marcha suicida para um país em que a movimentação de cargas e de passageiros depende majoritariamente de combustíveis sólidos.

Mudar e mudar rápido sem medidas artificiais e de curto prazo com inspiração exclusivamente eleitoral evidentemente não muda nada e tende a piorar. O que conta, de fato, é a reafirmação da condição estratégica da Petrobras e a partir daí rever os critérios de destinação de seus ganhos. Mais diretamente, entender que o Brasil vem primeiro e ser coerente com tal entendimento. Para além, numa perspectiva de médio e longo prazo, rever a política de investimentos, reforçando, também com senso de urgência, investimentos na capacidade de refino, até que o equilíbrio seja restaurado e a autossuficiência plenamente restabelecida.

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