EDITORIAL | Cemig volta às origens

A Cemig, como geradora e distribuidora de energia elétrica, já foi considerada, mundialmente, como empresa modelo, padrão para a construção do sistema elétrico brasileiro, pensado e executado por mineiros como João Camilo Penna e Mário Bering. Era o tempo, que já vai distante, em que brasileiros foram capazes de construir monumentos como a Usina de Itaipu e deram suporte técnico ao projeto e construção da Usina de Três Gargantas, na China, a maior do mundo. Tristemente, um passado de conquistas e realizações que se perderam no tempo, por conta de decisões estratégicas equivocadas e ingerência política descabida.
A empresa, que foi um dos suportes ao ciclo de prosperidade que Minas Gerais conheceu na segunda metade do século passado, começou a se perder quando, assim entendemos, mudou seu foco – suprir o Estado de energia elétrica abundante e barata – acreditando que poderia, literalmente, abraçar o mundo, criando ou adquirindo empresas que operavam, ou operam, em diversos estados brasileiros, com destaque para a famosa Light, do Rio de Janeiro, um sorvedouro de dinheiro que muito colaborou para sangrar a empresa mineira. Igualmente marcante, negativamente no nosso entendimento, foi a colocação de ações na Bolsa de Valores de Nova York, fato apontado à época como melhor evidência de suas qualidades. Pode até ter sido, mas foi também um ponto de inflexão.
A Cemig, concebida para ser, na realidade, um dos suportes do sistema de fomento do Estado, passou a estar sujeita a regras em que os acionistas – e os lucros – passaram a ser senhores absolutos e únicos. Tudo que foi pensado antes, tudo que foi realizado e deu certo, deixou de fazer sentido e a empresa foi perdendo seu brilho, para não dizer sua própria razão de ser, não na perspectiva dos compradores de ações em Nova York, mas dos mineiros e brasileiros. Tudo isso nos ocorre a propósito das notícias de que a Cemig decidiu acelerar o processo de venda de suas ações na Light, ponto de partida para um processo de desinvestimento, de redução do endividamento e capitalização. Que seja também, por inspirada decisão do governador Romeu Zema, um processo de volta às origens, de reconhecimento e comprometimento com os valores que determinaram a sua fundação.
Quando Minas Gerais busca a recuperação e expansão de sua economia e foca parte destes esforços na indústria, a oferta de energia elétrica a preços competitivos e a disponibilidade de infraestrutura são aspectos fundamentais para investidores. Foi assim no passado, quando o crescimento regional foi muito superior à média nacional, e pode ser assim novamente.
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