EDITORIAL | Chances de fazer melhor

Nos anos 70 do século passado, antes da crise do petróleo, imaginava-se, nos Estados Unidos, então solidamente estabelecido na condição de maior economia do planeta, que o país deveria caminhar na direção de um novo patamar. Basicamente, trocar a produção pelo conhecimento, reservando-se o domínio tecnológico e transferindo para outros países a produção bruta, siderúrgica por exemplo, que diziam “suja”.
Essa estratégia custou caro ao país, situação visível quando se observa o declínio da indústria automotiva e a virtual agonia da cidade de Detroit, talvez o melhor símbolo da riqueza na primeira metade do século. Visível também quando é observado o crescimento da China, o país que melhor aproveitou as oportunidades surgidas, num avanço que a coloca na liderança da economia global num horizonte próximo.
Tudo isso estaria no rol das ironias da história, algo que os norte-americanos sentiram quando eclodiu a primeira crise do petróleo, o mundo mudou e ficou claro que a estratégia imaginada não seria sustentável, uma vez que a produção industrial continuaria sendo principal geradora de riquezas e de empregos. Algo que o ex-presidente Trump percebeu à sua maneira que poderia ser negócio de alto risco conceber e desenvolver Iphones, por exemplo, mas produzi-los na China. Biden, o sucessor, segue a mesma linha, mantendo aceso o conflito no nível retórico e simultaneamente anunciando programa de investimentos de U$ 250 bilhões de dólares, no que vem a ser o maior esforço de aquecimento da indústria em todos os tempos naquele país.
Trata-se de acelerar a corrida e tentar bloquear os avanços chineses, repetindo simultaneamente esforços já conhecidos visando confundir a disputa econômica com questões políticas e um apreço tão seletivo quanto falso pela liberdade e pela democracia. Muito interessante também notar que muda a tática e mudam teorias durante longo tempo repetidas. Nada de Estado mínimo e interferência também mínima no mercado e nos negócios, que seriam capazes, dizia-se acreditar, de se autorregular. Difícil, por enquanto, antecipar se os efeitos serão os desejados em Washington ou se, ao contrário, Pequim tem musculatura suficiente para manter seu espaço.
As respostas, evidentemente, virão com o tempo, principalmente se a competição der espaço à colaboração, se a expansão dos mercados resultar de melhor distribuição da renda. Se houver mais inteligência e menos arrogância as mudanças, que então poderão ser parte do processo de recuperação pós-pandemia, dando a todos oportunidade de, além de rever conceitos, finalmente avançar numa direção mais inteligente. Afinal sonhar ainda é permitido.
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