Opinião

EDITORIAL | Choque de realidade

EDITORIAL | Choque de realidade
Crédito: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Sutis movimentos da economia global deixaram no ar, para o Brasil, este ano, a sensação de que houve ganhos e melhoras, algo fartamente explorado na campanha eleitoral, onde se comemora recuperação de empregos e de renda, além de deflação, elementos suficientes para que seja proclamado que o País está dando ao mundo uma espécie de show de recuperação econômica. Dessas avaliações para a realidade vai distância, infelizmente ainda bastante grande, o suficiente para que se produza, entre estudiosos, grande preocupação com o que nos aguarda o próximo ano, independentemente de quem possa sair vitorioso no dia 30.

Fatores externos, muito em especial, no nosso caso, a valorização de commodities agrícolas, resultaram em alguma folga enquanto o câmbio favoreceu a arrecadação, produzindo picos que não se repetirão. Tudo isso sem contar as manobras feitas para conter os preços de derivados de petróleo, que certamente não continuarão represados por muito tempo depois que o último voto seja depositado. Resumindo, motivos de sobra para tirar o sono de quem tiver que lidar com a realidade, numa conta em que falta acrescentar despesas acumuladas com o pagamento de auxílio aos mais pobres e favores aos aliados. Departamentos de estudos e análise econômica de grandes bancos estimam que o buraco cavado nos últimos meses representa uma conta que, na melhor das hipóteses, ficará em R$ 120 bilhões, mas que poderá chegar aos R$ 150 bilhões.

E a questão não se resume a pagar a conta. Os mesmos estudos lembram que algumas despesas vitais, em áreas críticas como o funcionalismo, saúde, educação, pesquisas e tecnologia, foram represadas ao extremo, situação que de uma ou outra forma provocará impacto nas contas do próximo exercício. Só para resumir e deixar claro o tamanho da encrenca: não há como manter, tal como vem sendo prometido, o Auxílio Brasil no nível atual e ao mesmo tempo atender, minimamente que seja, às demandas do funcionalismo. A estas alturas o teto de gastos já terá desabado.

Faltando poucos dias para a votação final, o assunto, embora absolutamente decisivo, continua fora da pauta dos dois candidatos, que consomem seu tempo trocando acusações, deixam uma brecha para repetir promessas que soam bem a ouvidos menos exigentes, mas sem nenhum elemento que a ciência econômica possa endossar. Nesse plano, existe muita preocupação e pouca margem para otimismo ou confiança.

Aguardemos, quem sabe acreditando que a própria compreensão da realidade possa ser um ponto de inflexão, portanto favorável aos que prosseguem torcendo pelo melhor.

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