EDITORIAL | Choque de realidade

De volta a Brasília depois de rápida viagem ao Egito e Portugal, o presidente Lula chega também à reta final do processo de transição, por suposto tendo conhecido os problemas que terá pela frente, definido quem estará ao seu lado na guerra que se avizinha, assim como as melhores estratégias para o combate. Em resumo, muita coisa para fazer e pouco tempo para trabalhar. E do pouco, quase nada, que se sabe até agora de certo mesmo temos as manobras que, esticando as contas públicas, permitirão que continue sendo pago o auxílio de R$ 600/mês aos mais carentes, além de algum aumento real para o salário mínimo.
Acudir os mais necessitados faz todo sentido, mas nem de longe define o cenário que, brasileiros, teremos pela frente. Até porque, esgotadas as “bondades” de última hora que o atual governo não conseguiu transformar em votos, a ilusão de recuperação – que a propaganda tentou apresentar, também sem nenhum sucesso, tamanho o exagero, na mais expressiva em todo o planeta – começa a derreter, deixando dificuldades que dificilmente poderão ser revertidas em quatro anos. Se não existirá dinheiro nem mesmo para o pagamento da merenda escolar, restará fazer da racionalidade, da redução de gastos, uma espécie de mantra. Não dá para enganar, não dá fazer de conta e menos ainda para aumentar gastos.
Pelo que já se sabe e pelo que pode ser observado, trata-se, repetindo aqui uma expressão tão popular quanto pertinente, de “cair na real”. Estamos sugerindo realismo, compromisso e extrema disciplina, nada que combine com o que não seja essencial, nada que autorize o repetido anúncio de que novos ministérios serão criados, chegando a um total de 34, já se imagina. Um despropósito, para quem sabe que nas repartições públicas tem faltado dinheiro até para material de limpeza ou não tem dúvidas de que definir hierarquias e soluções não tem nada, absolutamente nada, com pendurar em qualquer parede placa informando que ali existe um ministério de qualquer coisa.
Alguém já disse que o novo governo não terá espaço para errar e, evidentemente, não pode começar errando ainda na transição, sobretudo quando já deve ter percebido que do outro lado da mesa não se encontram pessoas dispostas a colaborar, nem mesmo a colocar, como tanto gostam de dizer, o Brasil em primeiro lugar. Cabe então a quem fala pelo novo governo, desde seu chefe, entender e ser consequente com o fato de que o tempo é curto, curtíssimo na realidade, e a tarefa que está em suas mãos é grande e complexa. E sem contar que é preciso entender também que os palanques ficaram para trás e pela frente estão dificuldades que não são poucas.
Ouça a rádio de Minas