EDITORIAL | Começando pelo começo

Empresários brasileiros que acompanham, atentos, as turbulências em Brasília continuam preocupados. Entendem que num contexto de problemas cuja pior evidência é a morte de mais de 120 mil pessoas em pouco mais de quatro meses e a debilidade da economia é evidente, com perspectiva de recuperação lenta e difícil, as respostas estão demorando muito.
Na esfera pública, ações que chegaram a ser comparadas ao Plano Marshall, de reconstrução da Europa Ocidental no pós-guerra e que o próprio ministro Paulo Guedes prometeu ser um novo big bang, não decolaram. No mundo real a única preocupação dos políticos parece ser encantar, a qualquer custo, quem lhes possa dar votos que somados assegurem novo mandato, mesmo que esse rumo não guarde qualquer relação com o que precisa ser feito urgentemente.
Para muitos, as tensões envolvendo o ministro da Economia, que na semana passada chegou a ser apontado como muito próximo da queda e tido como alguém que já enfrenta um processo de fritura, melhor simbolizam a distância entre o mundo da fantasia, em que o espaço político é apenas uma escada, e o mundo real, onde as dificuldades vão se acumulando.
Assim, o entendimento geral é que um plano de ação, começando do curto prazo, capaz de conduzir a economia a uma recuperação consistente, de suportar a parcela mais vulnerável da população, dar apoio às empresas que estão no limite de sua resistência, é o mínimo a esperar, numa perspectiva em que o reequilíbrio das contas públicas não comporta alternativas.
Em suma, estão falando, ou enxergando, como necessidade, mas ao mesmo tempo como miragem, de reformas para além da retórica ou da conveniência, que de fato possam garantir, em primeiro lugar, segurança jurídica para investidores e empresas, incentivando investimentos, geração de empregos, renda e consumo.
Um mundo distante, mas somente dessa forma sustentável, onde as reformas tributária e administrativa, finalmente, pudessem caminhar na direção do interesse maior, coletivo, fazendo surgir políticas permanentes, de Estado, dando lugar à política de poder, onde a retórica costuma valer muito mais que resultados e eficácia.
É preciso também enxergar que as dificuldades que o País enfrenta presentemente, muito agravadas pela pandemia, refletem principalmente os erros acumulados ao longo do tempo e não somente os efeitos da crise sanitária.
A doença de que falamos é anterior, suas causas são bem conhecidas, mas os necessários incômodos decorrentes do tratamento mais recomendado, talvez único, postergam decisões, enquanto não se tem notícias da busca de uma vacina, que no caso teria a forma da sempre adiada reforma política.
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