Opinião

EDITORIAL | Começando pelo começo

EDITORIAL | Começando pelo começo
Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

O tal “mercado”, aquele que não tem cara nem endereço, mas parece dono de um poder e vontades sem limites, anda alvoroçado depois de 4 anos de silêncio quase completo. São os novos ventos políticos que o incomoda. Assim, deu sinais de vida, na forma de variações bruscas na bolsa e no câmbio, quando o presidente eleito anunciou que sua maior preocupação seria com os deserdados, aqueles que não têm teto e tampouco sabem se como e quando terão alimentos.

Pobres em primeiro lugar ou, mais amplamente, a busca de uma sociedade mais equilibrada, lembram tempos embaraçosos em que o aumento do poder de consumo incomodou aqueles que enxergaram aeroportos transformados em modernas rodoviárias. Bastante curioso que o “mercado” não enxergue como tudo isso pode ser bom para os negócios. Deveria ser suficiente para acalmar os mais nervosos sem ser preciso lembrar-lhes que o Ibovespa atingiu sua maior cotação histórica em 2008, enquanto o lucro dos bancos cresceu 8 vezes no primeiro mandato de Lula.

Nessa mesma toada, enquanto um nome ilustre do passado rondou círculos lulistas, talvez esperando ser relembrado, diante do insucesso e do alto de sua incontestada sabedoria proclamou que, mesmo antes de começar, o novo governo “dilmou”, referência evidentemente nada positiva. Essa gente parece não se dar conta do que está acontecendo, prefere fingir que também não percebe o que pode acontecer. Não se dão conta de até que ponto ajudaram a contribuir para produzir um país que perdeu o rumo e não mudará enquanto não se reencontrar, enquanto não houver uma reconciliação que não seja dificultada pelas ambições de sempre. Destilar preconceitos em última análise não é muito diferente que bater às portas dos quartéis, num comportamento ensandecido. Ou como se todas as memórias tivessem sido apagadas.

O “mercado” tão sensível e preocupado faria melhor, seria mais inteligente, se fosse capaz de enxergar a profundidade do buraco em que ele também está metido, entendendo então que é preciso encontrar meios e modos de escapar. Entendimento que necessariamente nos remete à urgentíssima necessidade de construção de um projeto permanente, de Estado, claramente apontando para o destino que desejamos alcançar e como chegar até lá.

E não estamos falando de uma tarefa que o novo governo possa abraçar sozinho, longe disso. A tarefa é rigorosamente coletiva e o prêmio é reduzir desigualdades, produzindo prosperidade, o que evidentemente não nos desobriga de começar, em emergência, atendendo os que estão abaixo da linha da pobreza, que não têm teto ou um prato de comida.

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