EDITORIAL | Como fazer bem feito

À época, mais de 20 ou 30 anos passados, a ocupação da região do Belvedere e, em especial, a autorização para verticalização do bairro na divisa com Nova Lima, deu o que falar. Argumentava-se que era preciso preservar a região, por razões ambientais e climáticas, além de considerar que o adensamento provocaria problemas de circulação incontornáveis, uma vez que existia – e nada mudou – apenas uma via de acesso ao centro da cidade, que fatalmente se transformaria num funil. Outros interesses falaram mais alto e os resultados, comprovadas as ponderações anteriores, são amplamente conhecidos.
Compreender o contexto, aceitar que a ocupação da região foi, do ponto de vista urbanístico, um dos maiores erros cometidos em Belo Horizonte, pode ajudar a evitar que a situação piore ainda mais. Trata-se do destino da área por onde corriam os trilhos – que lá permanecem – da ferrovia que acessava o alto da Serra do Curral, tendo como serventia transportar o minério de ferro ali extraído. Esgotadas as reservas, paralisadas as atividades de mineração, a ferrovia foi abandonada, algo equivalente, apenas no Belvedere, a 50 hectares. Como é sabido, esta área, pertencente à União, seria colocada em leilão nos próximos dias e assim destinada à ocupação imobiliária.
Exatamente o oposto do que defendem os moradores da região, que imaginam para o local a construção de um parque, espaço de lazer e de oxigenação, além de contenção de um adensamento que absolutamente não é aceitável. Por enquanto, sabe-se pouco a respeito, a rigor apenas que o leilão não ocorrerá no dia 25, conforme programado anteriormente, mas os grupos que defendem a preservação da área, assim como parlamentares que lhes dão apoio, estão otimistas, acreditando que são melhores as chances de que o bom senso prevaleça. Muito bom, mas na realidade a discussão deveria ser mais ampla, envolvendo o destino de todo o ramal ferroviário, ou de sua área de domínio, que vai até o barreiro e poderia avançar, por exemplo, para alcançar Inhotim. Igualmente não se pode esquecer o que este espaço poderia representar em termos de melhorar as condições de mobilidade na região.
Outro ponto a considerar, em havendo vontade de fazer bem feito, é a ocupação, em condições urbanísticas ideais, de todo o terreno antes ocupado pela mineradora, área de tamanho equivalente a todo o espaço contido pela avenida do Contorno. Em resumo, daria para fazer o que a imaginação, combinada com as técnicas recomendáveis, alcançar, um novo espaço que seria a melhor imagem da Belo Horizonte do futuro. Pensar a respeito é o mínimo a ser feito agora.
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