Opinião

EDITORIAL | Conceitos a revisar

EDITORIAL | Conceitos a revisar
Crédito: Arquivo/Agência Brasil Usada em 29-08-19

Ganharam força nos últimos dias as preocupações com a falta, no País, de medicamentos básicos, evidência de um processo de desabastecimento que pode se agravar ao extremo. Pelo que se sabe e pelo que vem sendo dito, consequência, ainda da pandemia, agravada mais recentemente pela guerra no Leste europeu, problema portanto que teria abrangência global. No caso do Brasil são ainda confusas as informações, faltando um balanço confiável dos estoques, previsões de reposição e, evidentemente, sinais de que está sendo percebida a gravidade da situação, cujo fulcro é a dependência de importações e a concentração da produção em países como China e Índia.

O que num primeiro momento pareceu vantagem e assim foi muito festejado, o deslocamento da produção em busca de redução de custos com eufemismos que não resistiram à primeira grande crise, convida à reflexão. Não faz o menor sentido, em termos de segurança e até de logística, que a produção de itens essenciais, caso das drogas que servem de base à produção da maioria dos medicamentos, estejam concentradas em apenas dois países, ambos vivendo num contexto político que, dizendo o mínimo, é bastante instável, fato aliás já sobejamente demonstrado com o de abastecimento de componentes eletrônicos, que vem afetando a indústria de material de transportes, além de outras, em todo o mundo.

A luz vermelha foi acionada, ficou suficientemente claro que a dependência não pode atingir tais proporções, assim como que os conceitos até há pouco tão defendidos da globalização, que deveria representar tanto eficiência quanto o bem de todos, são imperfeitos, além de muito perigosos. As nações altamente industrializadas, aquelas que mais correram atrás da mão de obra abundante e barata, agora se dão conta de que exportaram empregos ao mesmo tempo em que a dependência passou a ser muito arriscada. Estes países começam a reagir, revendo conceitos que se traduzem em recuperar autonomia nas áreas mais críticas. Daqui para frente não há como duvidar que será esta a tendência.

Enquanto isso o Brasil parece navegar em outros mares, algo suficientemente evidenciado no anúncio de que serão feitas importações diretas e imediatas de óleo diesel russo, sem levar em conta, certo ou errado, o bloqueio a que os produtos daquele país estão submetidos. Deveria sim estar pensando em expandir, com a velocidade possível, a capacidade de refino, ao mesmo tempo cuidando de retomar a produção de insumos para produção de medicamentos, respostas definitivas para problemas críticos dos quais não se tem notícias de que tenham chegado a Brasília.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas