EDITORIAL | Construindo alternativas

Minas está quebrado, resume, tão discretamente quanto possível, um técnico da Secretaria da Fazenda, fazendo coro, ainda que involuntariamente, com o governador Zema, que define a situação das finanças mineiras como a mais deteriorada entre os estados. E tudo isso, é bom ter em conta, antes do desastre de Brumadinho, que virtualmente paralisou a Vale e o setor de mineração, tornando maiores os problemas que já eram grandes.
Assim, e na visão oficial, se não acontecer, e rapidamente, repactuação das dívidas com a União, o Estado chegará, muito rapidamente, a uma situação de colapso financeiro. Reconhecer a realidade, ter em conta a sua gravidade, é o primeiro passo para que ela possa ser modificada, para que as querelas políticas sejam deixadas de lado e todos, absolutamente todos, somem forças, no elementar entendimento de que, do contrário, todos perderemos. No mínimo, por instinto de sobrevivência.
Construir alternativas significa, para Minas Gerais nesse momento, além da união em torno do objetivo comum, impor disciplina aos gastos, fazendo da moderação um novo – e definitivo – modelo de gestão pública, sem espaços para os desvios que, acumulados ao longo do tempo, produziram o quadro atual. Terceiro, as ações demandam agilidade; e, quarto, racionalidade, combinada com a simplicidade que o atual governador pretende fazer sua marca.
Tudo isso é possível e pode produzir resultados, revertendo os piores prognósticos se acompanhado de medidas mais agressivas de apoio aos negócios, num ambiente menos hostil e mais inteligente, começando pela revisão da política tributária, que provocou a transferência de muitas empresas para fora das divisas do Estado e afastou outras que poderiam aqui ter-se instalado. Minas Gerais tem diferenciais competitivos que, potencializados, poderiam produzir mudanças mais rápidas, compensando as perdas dos últimos anos.
Outro ponto fundamental é o entendimento das vocações da economia regional, em particular no agronegócio, potencializando-as com políticas que, via beneficiamento e industrialização, possam produzir agregação de valor.
Algo que se aplica também à mineração, hoje no centro das atenções e poderia produzir efeitos rápidos e consistentes na área de pedras preciosas, em que ainda predomina o comércio clandestino e limitado a pedras brutas. A lapidação, esquecida e desconsiderada, propiciaria ganhos muito expressivos.
O que não faz sentido, não pode ser aceito, é que Minas Gerais continue sendo o maior produtor de café enquanto a Alemanha é o maior processador ou que as pedras preciosas mineiras continuem sendo lapidadas e comercializadas em Antuérpia ou Nova Iorque.
Caminhos existem, a questão é começar a caminhar.
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