EDITORIAL | Contas fora de propósito

O ministro da Economia, que chegou ao governo apontado como seu nome mais forte, anda em baixa. Consta que dentro e fora do governo chegou a dizer, em mais de uma oportunidade, que o País está quebrado, situação que evidentemente só piorou por conta da pandemia. Feito o diagnóstico, o tratamento, todos sabem, ficou a desejar, em nada, ou quase, lembrando o que foi dito durante a campanha eleitoral.
Sobretudo quando o candidato eleito bradava contra o que chamava – corretamente deve-se admitir – de “mamatas” que não se repetiriam na sua gestão. Vitorioso e empossado, a lua de mel a rigor não chegou a acontecer, com o chefe do Executivo não demorando a constatar que seu modelo de independência e negociações diretas, fora do âmbito dos partidos, não funcionaria e, de fato, não funcionou. Assim, acumulando erros, o presidente acabou, como a maioria de seus antecessores, nos braços do “centrão”, bloco parlamentar majoritário mas que tem no pragmatismo a sua ideologia.
Rapidamente, cargos na administração federal, começando por postos de representação nos estados e logo chegando aos ministérios, voltaram a ser moeda de uso corrente, num jogo hoje escancarado sem qualquer pudor. Em termos objetivos, repetir os erros do passado significa comprometer a gestão e, ainda pior, comprometendo também o Orçamento, desmontando-se em consequência as até então tímidas tentativas de controle fiscal e afastando do governo, por evidente incompatibilidade, alguns dos nomes mais importantes da equipe econômica. Tudo isso para garantir alguma margem de manobra e, claro, chances nas eleições que se aproximam, o que parece ser o centro de todas as preocupações.
Nessa direção esforços não são medidos, mesmo existindo o entendimento de que as alianças construídas são de mera conveniência e fatalmente derreterão caso as pesquisas de opinião, tanto de avaliação da gestão atual quanto das inclinações dos eleitores com relação à votação do próximo ano, prossigam na toada atual. E tudo isso a um custo que, definitivamente, o País quebrado descrito por seu ministro da Economia, não terá como suportar.
Como então entender, com universidades públicas à beira de fechar as portas e cortes drásticos nos orçamentos em áreas cruciais à recuperação, ou reconstrução, da economia, que tenha sido acertada a liberação de recursos extras para emendas patrocinadas por parlamentares amigos que poderão custar até R$ 20 bilhões? E o que dizer das manobras que criaram o “teto do teto” para benefício exatamente da alta hierarquia? Para a nova política, um envelhecimento mais que precoce.
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