EDITORIAL | Contas que não batem

Nos seis primeiros meses do ano a arrecadação federal somou R$ 896,8 bilhões, o que representa um crescimento real de 24% sobre igual período do ano anterior e o melhor resultado para a série história contada a partir do ano 2000. Diante dos números exibidos pela Receita Federal o ministro Paulo Guedes, da Economia, já enxerga o Brasil “numa vigorosa retomada do crescimento econômico”.
Analistas mais prudentes preferem enxergar o fenômeno de outra forma, entendendo que ele pode não ser duradouro, lembrando fatores como elevação dos preços das commodities, câmbio e até mudanças no padrão de consumo como causas principais do avanço registrado, mas que podem ser fatores não recorrentes. Cabe assinalar que na comparação com 2020 o crescimento foi de 24%, porém se a base for o primeiro semestre de 2019, antes da pandemia, o percentual cai para 6,1%.
De uma forma ou de outra, com mais ou menos foguetório, há o que comemorar, mesmo que numa atitude recomendável de prudência.
A maré positiva pode ser observada, e com mais intensidade, também em Minas Gerais, onde os dados da Secretaria da Fazenda registram, para os seis primeiros meses do ano, crescimento da arrecadação, no somatório das receitas, 28,4% na comparação com o primeiro semestre do ano passado. Chama atenção que, se comparados apenas os resultados de junho nos dois anos a diferença chega aos 46,8%, enquanto o aumento da arrecadação do ICMS, no primeiro semestre deste ano, chegou a 30,27%, com destaque para os setores de combustíveis e indústria extrativa mineral.
Uma situação que produz efeitos imediatos, no plano federal representando arrecadação não prevista de aproximadamente R$ 200 bilhões, suficientes para gerar alguma folga de caixa no segundo semestre, enquanto no Estado bastou para permitir que o governo local anunciasse o fim do parcelamento dos vencimentos do funcionalismo, depois de 5 anos. De qualquer forma, estas boas novidades levam a uma indagação inescapável. Segundo os dados disponíveis, confirmados pelas projeções do Banco Central e outras fontes oficiais, a economia brasileira, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), deverá crescer este ano entre 4% e 5%, índices que o setor privado confirma.
Ao comum dos mortais, aqueles que acreditam que números não mentem, fica difícil compreender como e porque pode ser tão grande a diferença entre o crescimento da arrecadação, que deveria ser mero reflexo do comportamento dos negócios, e o desempenho da economia no seu todo.
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